Para quem enxerga além, não há obstáculos intransponíveis

Lembra que no meu primeiro artigo aqui no Vida Mais Livre eu prometi que contaria mais da minha história?

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Tenho deficiência visual (baixa visão). Atualmente, possuo cerca de 3% da acuidade visual, decorrente de uma doença degenerativa da retina chamada Stargardt. Uma doença genética e, até o momento, sem cura.

Nasci com ela, mas a manifestação do início da perda da visão se deu entre sete e nove anos. No começo, não sentia nada, apenas a luz me perturbava um pouco os olhos. Fui crescendo e, no ginásio, as dificuldades começaram a aparecer.

Inicialmente, como minha mãe e algumas irmãs tinham miopia, achamos que fosse isso. E seguimos em frente, esperando uma oportunidade para fazer um par de óculos. Minha família tinha poucos recursos e tínhamos que esperar.

A visão ia piorando a cada dia, e eu ia sentando cada vez mais perto do quadro negro. Mas, logo, isso não adiantava mais e passei a pedir aos colegas para lerem a matéria no quadro para que eu pudesse copiar.

O problema maior era nas aulas de matemática, física, química, geografia, que tinham fórmulas, mapas, imagens, não apenas textos para copiar. Então, eu pedia permissão e me levantava, indo até a frente do quadro para copiar. Ficava lá, em pé, por muito tempo, sendo alvo de piadas e bolinhas de papel, mas eu não ligava. Lembro-me que havia professores que não permitiam, então eu não copiava e esperava o final da aula, quando o professor não apagava o quadro, para copiar antes do início da próxima aula, ou pedia o caderno de um colega emprestado.

As dificuldades aumentavam a cada dia. Lembro-me de uma situação, no final do ginásio, durante uma prova, em que eu pedi à diretora que tomava conta da turma para me ditar a prova escrita no quadro. Eu expliquei minha situação e recebi a resposta de que minha mãe tinha que comprar óculos para mim, se eu não enxergava bem. Retruquei, mas ela foi irredutível, dizendo que eu estava fazendo “corpo mole” por não saber a matéria. Como eu sempre tive boa memória, fui escrevendo tudo o que sabia da matéria na folha em branco. Por fim, ao receber a prova alguns dias depois, percebi que levara um enorme zero!

Para encurtar, minha mãe teve que ir à escola para conversar com o professor e a diretora, informar que eu tinha um problema de visão, que não podia comprar óculos e que era um absurdo o professor não levar em consideração o que eu tinha escrito. Ele alegou que eu não tinha respondido às questões propostas. Minha mãe, então, disse: “Me diga as perguntas da prova que eu lhe direi a resposta que minha filha escreveu na prova.” E assim foi feito. Ele ia dizendo uma pergunta e eu mostrava partes do texto que respondiam ao questionamento.

Por fim, o professor teve que aceitar que eu havia respondido às questões, mesmo que fora de ordem e acabou por aceitar minha prova e me dar nota 10. Fiquei muito feliz. Mas nem tudo foram flores… Falarei mais sobre isso num outro artigo!

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