Um triste caso de exclusão escolar

Compartilhe:

Sabe quando olhamos um jardim e ele nos chama a atenção mesmo sem ter nada de especial? A gente não sabe se a composição de cores, o aroma ou se é o momento que nos encontrou mais sensíveis à beleza daquelas flores.

Hoje, uma escola me chamou a atenção. Era uma escola bem pequena, espremida na cidade grande entre um prédio e outro. Nem era bonita, era cinza e suas paredes exibiam muitos trabalhinhos das crianças que estudavam ali, estavam colocados sem preocupação com a estética da decoração, mas traziam a beleza implícita na simplicidade, no gesto amoroso de quem exibe com orgulho rabiscos e traços desconexos a pretexto de obra de arte.

Melhor que ver o ambiente acolhedor, foi ver que aquelas crianças eram diferentes, de uma forma muito sutil, uma diferença expressa nas pequenas atitudes de apoio mútuo e na forma como se sentiam iguais, mesmo estando entre crianças com deficiências físicas ou com um padrão atípico de funcionamento. Não havia ali nem preconceito nem cuidado excessivo nem discriminação nem preferências. Era um nível de aceitação do que o outro tinha para dar que raramente vemos fluir de maneira tão espontânea entre as pessoas.

Não pude deixar de pensar que adultos incríveis as crianças daquela escola se tornariam, desde cedo convivendo tão bem com a diversidade, que afinal de contas é quem dita o compasso nas relações humanas.

Essa foi uma doce experiência que acabou compensando o amargor absorvido em recente episódio em que testemunhei a expulsão de um lindo menino com Autismo, de dez anos de idade, de uma escola particular em Porto Alegre. Estive presente como voluntária, na tentativa de contribuir para que equipe e coleguinhas entendessem seu jeito particular de se expressar e adotassem medidas específicas para sua inclusão, como tantas vezes já fiz. Entretanto, a escola deixou claro que não pretendia incluir e, com todas as letras, pediu que a mãe arranjasse outra escola, de preferência uma escola especial.

Foram tantas afirmações equivocadas, tanta ignorância, que perdi por alguns momentos minha capacidade de acreditar que as pessoas envolvidas na educação são quase sempre pessoas mais sensíveis, pessoas que sabem que educação é mais que fala, que é sobretudo exemplo. Olhando a dor da mãe, só me restou apoiar, orientar, lamentar. E no final, um processo judicial, uma mãe magoada e uma criança confusa que chama por uma escola que não a quer.

Porém, o pior resultado virá para os demais alunos desta escola tão bem decorada, paredes repletas de frases de grandes educadores, palavras usadas para enfeitar. Estas crianças talvez nem saibam a riqueza da oportunidade educativa que estão perdendo. Não conseguirão entender que existem tempos diferentes de aprender, ou formas variadas de expressão, não saberão que a “deficiência” ensina, promove valores, enriquece a nossa vida, apura nosso olhar.

Por estas crianças, eu lamento e lamento também minha importência neste episódio, mas lembrando Quintana, em seu poema "Deficiências", penso de certa forma consolada, que no final das contas, cego, surdo, mudo, deficiente é a escola que não é capaz de incluir e com certeza a pior deficiência é a deficiência de amor.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *