Pesquisa diz que empresas não investem em políticas de inclusão

Mulheres, negros e idosos não têm as mesmas chances no mercado de trabalho. Ações se voltam para pessoas com deficiência e jovens aprendizes

Em fundo roxo, ícone em branco representando um currículo com uma lupa
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O portal R7 divulgou notícia com pesquisa sobre as políticas de inclusão nas empresas. Confira a matéria na íntegra:

“Ninguém questionaria se eu estivesse batendo laje, mas quando chego a uma obra perguntam quem vai emitir o laudo”, desabafa o arquiteto Diogo Arrudas Francisco, 29 anos. O jovem negro, nascido na periferia de São Paulo, é um exemplo das dificuldades enfrentadas por profissionais no mercado de trabalho.

A pesquisa Diversidade no mercado de trabalho e nas empresas organizada pela da Talento Incluir com o Vagas.com, empresa de soluções tecnológicas de recrutamento e seleção, aponta que as empresas não estão preparadas para lidar com a diversidade e não têm programas específicos para isso.

“As empresas, em via de regra, querem cumprir a lei, mas não estão preocupadas com a inclusão e a diversidade” observa Carolina Ignarra, sócia fundadora da Talento Incluir, que atua na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho e na sociedade. “Como não dão chance para acabar com as desigualdades, a lei não cumpre o seu papel que é o de mudar a realidade das pessoas”.

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De acordo com a pesquisa, 60% dos profissionais de Recursos Humanos afirmaram que a empresa onde trabalham não possui um programa de diversidade. E aqueles que contam com a iniciativa (40%), declararam que as ações são voltadas, em sua maioria, para pessoas com deficiência (88%) e para jovens aprendizes (84%).

O levantamento também traz um dado importante sobre a diversidade no ambiente de trabalho. De acordo com 62% dos profissionais de RH que participaram da pesquisa, as empresas onde eles trabalham não estão totalmente preparadas para lidar com a diversidade. Outros 25% acreditam que as companhias onde atuam não estão aptas a tratar do tema enquanto 3% não souberam opinar. Somente 10% dos profissionais declarou que suas corporações estão prontas para essa questão.

Para a realização da pesquisa, foram ouvidas 3.244 pessoas que se candidataram a uma vaga recentemente e 202 profissionais de RH de todo o país. “Foi uma surpresa perceber que as empresas não abrem espaço para programas que incluam mulheres em cargos de liderança, que abarque diferentes raças, idades e até mesmo o público LGBT nos seus quadros de funcionários”, diz Rafael Urbano do Vagas.Com.

Entre as dificuldades apontadas, para a adoção de uma política de diversidade, aparecem preconceito ou falta de informação (48%), aceitação e respeito dos gestores (25%), aceitação e respeito dos colegas (14%), falta de preparo da área de Recursos Humanos (9%), discriminação (4%).

Números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que a população brasileira possui 205,5 milhões de pessoas e mais de 100 milhões se declaram pretos ou pardos. As pesquisas também mostram que houve um aumento no número de idosos.

“A população envelhece, a taxa de natalidade cai, no entanto, o mercado de trabalho não valoriza essas pessoas mais velhas”, diz Carolina. “É até comum receber pedidos uma descrição para encontrar profissionais com até 40 anos para uma determinada vaga”.

Urbano concorda e avalia que a grande questão é a economia. “As empresas querem economizar, buscam profissionais mais novos, que são mais baratos”. Na visão dos especialistas, profissionais com 50 anos ou mais estão praticamente fora do mercado de trabalho.

Mulheres também têm mais dificuldade para ingressar e se manter no emprego como mostram os números da pesquisa: dos 3.244 entrevistados, 54% são mulheres, com idade média de 33 anos, superior completo (48%) e 64% desempregadas. “Muitas são excluídas porque no Brasil não temos uma divisão entre homens e mulheres na licença maternidade, por exemplo, algumas empresas não querem contratar recém-casadas”, afirma Carolina.

O estudo ainda revela que mulheres, negros, pessoas com deficiência e profissionais mais experientes e qualificados foram os mais afetados em processos de recrutamento e seleção. Desse grupo de candidatos, 50% dos respondentes já se sentiram prejudicados em dinâmicas seletivas. Alguns perfis foram mais lesados, 54% de mulheres, 55% de pessoas negras, 59% de pessoas com deficiência, 64% de pessoas com mais de 55 anos e 59% de pós-graduados.

“A percepção é de que quanto mais escura a cor da pele, maior o preconceito e as barreiras a serem superadas”, diz Urbano. “Precisamos trazer mais informações para desmistificar e acabar com os rótulos. Outro ponto que pode reverter em resultados é que o consumidor também precisa se sentir representado pelas empresas, a relação de consumo muda”.

“Muito mais que fazer campanha espalhando cartaz ou ministrando palestra é preciso mudar a cultura dentro do mundo corporativo começando pelo alto escalão”, avalia Carolina.

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As oportunidades transformam não apenas a vida de uma pessoa como todo o contexto familiar. O arquiteto Diogo Arrudas Francisco conseguiu uma bolsa para estudar em um colégio particular na zona norte de São Paulo. “Minha mãe trabalhava na cantina e enquanto ela estava na escola, pude estudar. Consegui uma bolsa do ProUni e cursei arquitetura na Faculdade Belas Artes. Se não fossem os programas de acesso, não chegaria aqui”, conta.

“Eu me sentia muito solitário porque era um dos únicos, senão o único, aluno negro. Hoje as pessoas não esperam um perfil como o meu, creio que seja até inconsciente não identificar aquele lugar como de uma pessoa negra”.

Arrudas Francisco foi o primeiro da sua casa a cursar uma faculdade. “Foi uma reação em cadeia. Meu irmão mais velho e meu pai, que trabalhava como funileiro mecânico, decidiram estudar. Hoje meu pai realizou o seu sonho e é professor de matemática”.

Fonte: R7

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