Aline Nogueira de Barros

Compartilhe:

Sou Aline Nogueira de Barros, tenho 27 anos, sou brasileira de Varginha/Minas Gerais. Eu trabalhava em uma firma de Exportação de Café por 4 anos, quando decidi ir para Irlanda estudar inglês para voltar para o Brasil e tentar um emprego melhor e dar uma saúde melhor para minha mãe, por que ela é professora aposentada por invalidez e tem uma saúde muito precária por causa de reumatismo e artrite. E foi por isso decidi embarcar rumo ao desconhecido.

No dia 23 de agosto de 2007 eu desembarquei na cidade de Dublin para começar o curso de um ano. Como todos sabem é muito difícil ir para um outro país com uma língua totalmente diferente. Comecei a estudar e a trabalhar, mas o custo de vida aqui é altíssimo, e foi preciso arrumar mais de um emprego.

Perto de concluir o curso, eu ja estava trabalhando em 3 empregos para conseguir finalizar tudo e voltar paara casa. Na manhã de 22 de julho de 2008, faltando uma semana para eu retornar ao Brasil, peguei minha bicicleta como de costume para ir trabalhar. Saí de casa por volta de 6h15 da manhã rumo ao trabalho, eu entregava jornal local em uma esquina estipulada pelo empregador. Quando estava perto do lugar em que trabalhava parei em um semáfaro, na pista de ciclista e do meu lado tinha um caminhão parado.

Quando o sinal abriu eu virei a esquerda e o caminhão também, mas quando o motorista fazia a curva, ele me atingiu com a parte da frente me jogando ao chão.

O caminhão passou por cima de mim, depois eu ainda tive a consciência de rolar e permanecer no meio do caminhão entre as rodas. Neste momento, eu estava debaixo do caminhão que era ligeiramente alto. Mas o eixo traseiro do caminhão era baixo, me atingiu e jogou longe. Eu rolei, até parar na pista oposta e quando parei, vi o caminhão indo embora (o motorista não parou e fugiu). Neste momento, eu percebi que já não sintia mais as pernas. Foi um desespero, a polícia chegou muito rápido e depois de uns 10 minutos chegou a ambulância. Me encaminharam para a emergência do hospital mais perto do local do acidente, mas depois que dei entrada e passei por alguns exames os médicos decidiram me transferir para um hospital mais especializado no meu problema.

Esperei 12 horas para ser operada por que os médicos faziam sinal negativo com a cabeça e eles não sabiam como iriam fazer para fixar minha coluna. Eu quebrei minha coluna na altura da T12, L1 e L5/S1, na altura da T12 a lesão foi completa , eu fraturei o quadril e também os ligamentos do joelho. Minha cirurgia durou aproximadamente 14 horas e quando acordei, percebi que meus movimentos não voltaram.

A partir daí começou a grande luta.

Me vi totalmente paraplégica deitada em uma cama de hospital, longe de minha família, do meu país e da minha cultura e sozinha. Foi aí que a comunidade brasileira daqui da Irlanda começou a se organizar e tentar arrecadar fundos para mim por que depois do acidente eu não ia poder trabalhar por muito tempo.

Foram feitas várias reportagens no jornal local, até mesmo por que eu trabalhava para o jornal. E a partir disso, começaram as doações em minha conta, os Irlandeses foram muito generosos. Os brasileiros começaram a organizar festas beneficentes e arrecadar dinheiro para meu sustento.

Eu fiquei dois meses na cama no hospital até a minha recuperação e depois me encaminharam para um hospital de reabilitação. Só depois de dois meses do acidente que minha mãe teve condição física para viajar. Ela esteve aqui comigo no período da minha reabilitação, mas como aqui o clima é muito frio, a minha mamãe ficou doente e teve que voltar para o Brasil. Na semana seguinte que a mamãe voltou, e depois de três meses de reabilitação eu tive alta. Precisei alugar um apartamento que tivesse acesso para cadeira de rodas, mas em compensação o valor acaba sendo mais alto.

No total fiquei cinco meses hospitalizada e dois dias depois que estava no apartamento tive um outro acidente. Uma enfermeira veio até a minha casa para me ajudar e me ensinar as adaptações para a nova vida. A primeira coisa que pedi a ela foi para me ensinar a tomar banho, por que aqui em Dublin é comum ter banheiras nas casas.

A enfermeira me colocou na banheira e abriu a água quente queimando meus dois pés, a pele chegou a derreter. Com isso tive que voltar ao hospital, e quando voltei para casa tive que ficar trancada por 3 meses dentro de casa para não pegar infecção porque eu corria risco de perder os pés.

Por causa do processo, tenho que permanecer aqui e não tenho como voltar ao Brasil, como o motorista fugiu sem prestar socorro, ficou muito difícil a minha situação. Dois dias depois do acidente, a polícia pegou o caminhão e o motorista, não existe nenhuma evidência que este é o mesmo que me atropelou. Tenho testemunhas mas ninguém anotou a placa do caminhão. A única evidência são as câmeras da rua, porém não tem o momento exato do acidente nos vídeos, mas no período de uma hora passou somente um caminhão na área do acidente. E foi este que a polícia pegou, mas o motorista nega que foi ele, por isso, está difícil provar quem foi o culpado.

Eu só receberei a idenização ou qualquer dinheiro no final do processo cívil. Preciso que isso aacabe para logo voltar ao Brasil e ser tratada por bons profissionais. Dia 28 de abril tenho uma audiência final do processo criminal, que servirá para dar entrada no processo cívil.

E é por isso que estou nesta batalha. Desde o acidente, vivo com as doações que foram arrecadadas no início do acidente, como fiquei cinco meses hospitalizada, consegui juntar um valor considerável. Desde o acidente, tenho tentado conseguir algum benefício do governo da Irlanda, mas foi tudo em vão. O governo irlandes me deu visto permanente aqui no país, então espero o final do processo.

Adquiri uma dor neuropática após o acidente. Esta dor vem aumentando gradativamente com o passar do tempo. Eu tenho que tomar muitos medicamentos e também morfina de 4 em 4 horas. Meu intestino e bexiga não funcionam e preciso usar cateteres para conseguir urinar. Gasto em média 4000 euros por mês em sondas e remédios, mas graças a Deus aqui existe uma lei que todos pagam 100 euros e pega tudo o que é preciso. Mas como disse anteriormente eu preciso viver em um apartamento adaptado e isso tem um custo alto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *