Cada pessoa que você conhece tem pelo menos uma característica que a faz diferente, rara. Às vezes, somos surpreendidos pela riqueza de experiências, dores e conquistas de alguém que, na superficialidade de nossa análise apressada, parecia-nos ter sido sempre feliz. Aquela história da grama do vizinho ser mais verde ou de ninguém ver os tombos que damos. Porém, basta uma conversa franca ou um momento de confidência e aquele colega tão comum te revela um trecho difícil de sua vida, momentos de superação, uma decisão difícil ou mesmo uma bela história de amor que o torna, de repente, alguém especial com quem você teria, na verdade, muito que aprender.
Na superficialidade das nossas relações, perdemos a capacidade de olhar; apenas vemos. Deixamos de escutar para simplesmente ouvir, e sentimos na proporção que a agenda nos permite: alguns minutos por dia, se for um dia bom, claro. No resto do tempo, temos que brigar no trânsito, reclamar da política, reparar no mau gosto, comentar sobre o péssimo temperamento do chefe, pesquisar sobre bens de consumo, cultivar ambições. E, assim, vamos massificando nossas emoções e, neste todo comum, nossas peculiaridades perdem a importância.
Cada um de nós é diferente e, se nos reconhecemos assim, fica muito mais fácil tolerar a diferença alheia e dar de costas à uniformização que, a pretexto de educação, foi-nos imputada. Pensando bem, é muito mais comum nos esforçarmos para parecermos iguais aos outros, com os chamados padrões da moda ou bordões de expressão, do que nos empenharmos, de fato, em descobrir e expressar aquilo que é só nosso. Mesmo aqueles que pretendem protestar contra os padrões impostos, ferindo algumas regras do chamado bom gosto, a pretexto de originalidade, acabam se unindo a um grupo de iguais, estabelecendo, assim, seu próprio padrão. Não contestam nada e nada expressam.
A grande maioria de nós pretende um mundo que respeite as diferenças, que não tenha preconceito, que valorize a diversidade. Um mundo de acessos ilimitados, de adequação de espaços, de convivência e tolerância ao que tem uma ou outra deficiência. O que não nos damos conta, na verdade, é que, para este novo mundo existir, muita mudança interna precisa ser feita. Mudança individual mesmo, para que a soma destas individualidades se represente na maioria e defina novos e autênticos valores na grande contabilidade social.
Faça valer a sua diferença. Se não se descobriu, faça-o logo e, se já sabe onde se esconde o seu melhor valor, mostre ao mundo sem medo de não ser aceito, sem receio de rejeição. Afinal de contas, o diferente só parece ser frágil porque destoa do todo, mas, quando você tem a coragem de ser só você, autêntico e único, toda a força que precisa não vem de fora, não depende de aceitação externa. Toda a força e beleza de ser único reside exatamente na raiz que te sustenta, é de você que vem a aceitação mais autêntica da diferença, e o valor dela é atribuído principalmente a você, em cada momento de sua vida.