Este ano tem sido especial para a causa do Autismo no Brasil. Nunca houve uma manifestação tão expressiva quanto a que aconteceu no dia 02 de abril passado, o Dia Mundial do Autismo. Capitais e cidades em todo o país iluminaram de azul suas praças, casas, monumentos e uma multidão de familiares, profissionais e pessoas simpatizantes à causa do Autismo saíram às ruas em manifestações contagiantes.
Por outro lado, o quadro humorístico “Casa dos Autistas” da MTV explicitou a visão distorcida e preconceituosa que se tem a respeito do autismo e mobilizou pais e sociedade a tomarem atitudes de repúdio exigindo e conseguindo a retratação da emissora. Outra: uma falsa psicóloga que atendia a crianças com autismo no Rio de Janeiro foi desmascarada e presa. Tudo isso fez com que a síndrome fosse divulgada e sua presença na mídia resultou em audiências públicas em várias Assembleias Legislativas e Câmara de Vereadores pelo País afora na busca de leis de amparo a esta crescente população que sofre com a negligência de alguns direitos básicos.
Se a designação pessoa com deficiência traz uma identidade a tais pessoas, o mesmo não se dá com o Autismo. Não há consenso ainda sobre a questão da nomenclatura ou a categorização a ser utilizada, há profissionais que classificam o Autismo como deficiência, outros como transtorno mental. Os termos utilizados para designar o Autismo e seus diversos graus de manifestação podem ser entre muitos outros: TID, TID-SOE, TGD, TEA, e há discussão também quanto à designação que pode ser autista, pessoa autista, pessoa com autismo, pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo ou até mesmo: Pessoa com Espectro Autista (!).
Sem essa identidade estabelecida, tem sido negado o direito, por exemplo, ao atendimento preferencial, uma vez que ao olhar para a pessoa com autismo, não se enxerga nada de “errado” naquela pessoa, não há traços físicos que diferenciem uma pessoa com autismo. Permanecer em uma longa fila pode ser estressante para grande parte destes indivíduos, desencadeando até mesmo crises de comportamento desagradáveis e desnecessárias que não aconteceriam se a informação sobre o Autismo fosse mais disseminada.
Além de termos que lidar com os olhares acusadores das pessoas quando nossos filhos se comportam de forma diferente (Autismo é uma síndrome comportamental), temos que sofrer o constrangimento de ter que gritar para que todos ouçam: – meu filho é especial, por favor, compreendam e me dêem a vez. Isso às vezes custa uma dor emocional e só quem vive a experiência pode dimensionar.
Dentre os direitos que as pessoas com Autismo buscam e que estão agora tomando forma em um Projeto de Lei que tramita no Senado Federal, está o direito ao diagnóstico. Para a maioria dos pais o diagnóstico só chega depois de uma longa e angustiante espera. Na falta de um exame que detecte o autismo, muitos profissionais com receio de errar arrastam suas observações perdendo um tempo precioso de intervenção precoce. Outros se negam a emitir um laudo e há os que adotem os rótulos mais abrangentes como TID – Transtorno Invasivo do Desenvolvimento – que nomeia um grupo maior de transtornos e traz menos respostas aos pais e muito mais angústias.
Ainda se luta pelo direito de constar a averiguação de autismo nos levantamentos demográficos (Censo) para que se tenham dados epidemiológicos brasileiros que embasem projetos diversos de atendimento e apoio. Busca-se também o direito de não ser discriminado pelo uso da palavra autismo como adjetivo pejorativo, um erro cometido por jornalistas, editores-chefe, autores e pessoas comuns da mídia virtual ou impressa.
Há muito o que fazer e muito pelo que gritar. Sabe-se que a força para mudar a triste realidade de abandono, a que milhares de pessoas com autismo estão submetidas virá da sociedade civil organizada e também da atitude exemplar de corações sensíveis que se negam a normalizar tudo. Eles sabem que as diferenças fazem parte da vida e a enriquecem, sabem também que normal é um conceito muito relativo. Você leitor, pode fazer parte desta nossa causa e com certeza se sentirá recompensado quando as pessoas com autismo estiverem presentes na mídia, na vida, no mercado de trabalho, pois eles têm muito a contribuir, de uma forma muito especial e autêntica.
“Seja você a mudança que quer ver no mundo”.