Para Brad Cohen as aulas de leitura eram um sacrilégio interminável. Pronunciar as palavras de maneira correta e seguir a pontuação no ritmo exigido eram tarefas tidas como impossíveis para ele. Controlar os tiques, movimentos e barulhos involuntários que seu corpo teimava em repetir era tortuoso. Ao encontrar o apoio que precisava de um diretor da escola, Brad aprendeu a conviver com o preconceito e tornou-se um especialista em driblar as adversidades da síndrome de Tourette – um distúrbio neurológico caracterizado por espasmos, vocalizações e tiques repentinos, ocorridos com certa frequência durante grande parte da vida do indivíduo.
Cohen aprendeu a aprender, mas de sua maneira. E não satisfeito com a sua capacidade de superação, desenvolveu um método de ensino para alfabetizar outras crianças. Tornou-se um grande professor, escreveu um livro que mais tarde virou filme (Front of The Class, de 2008) daqueles que fazem a gente chorar. Hoje, tem uma fundação, a ‘Brad Cohen Tourette Foundation’, que apoia pessoas com a mesma síndrome. Sua trajetória é uma lição, literalmente, e nos mostra que o ser humano é tão diferente quanto a sua capacidade de aprendizado. Cabe, então, ao professor e à escola desenvolverem projetos pedagógicos que contemplem a diversidade dos alunos e extraia o que de melhor eles possuem.
No Reino Unido, Canadá e Estados Unidos, programas de identificação precoce auxiliam a escola a desenvolver com as famílias e suas crianças, estratégias de ensino para potencializar a aprendizagem de crianças com desordens de aprendizado, como a Dislexia e o Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH). Infelizmente, no Brasil, pouco se tem feito sobre o tema. Diferente do aluno com uma deficiência, que por mais dificuldades de acesso enfrentadas pode contar com o respaldo da Lei, alunos com transtornos de aprendizado não podem contar com a legislação brasileira. Faltam políticas públicas que colaborem para que o diagnóstico e tratamento destes transtornos sejam oferecidos gratuitamente aos alunos e seus familiares.
Na Câmara Federal, apresentei a relatoria de um projeto de Lei, 7.081 de 2010, que assegura às crianças com TDAH e Dislexia o acesso aos recursos didáticos adequados ao desenvolvimento de sua aprendizagem nas escolas de educação básica. Afinal, a nossa luta é para garantir o acesso universal. E para isso, o meio deve se adequar à diversidade humana, da mesma forma que pessoas com deficiência fazem uso de diferentes recursos como o braille, a LIBRAS e o próprio acesso físico para usufruírem seus direitos e cumprirem deveres.
Alunos com distúrbios como a dislexia e o TDAH sofrem de sintomas como a impulsividade, a dificuldade de concentração, a hiperatividade, entre outras reações que dificultam o aprendizado realizado por métodos convencionais de ensino. Isso não significa que não possam desenvolver suas potencialidades por meio de metodologias diferenciadas – com profissionais capacitados e materiais pedagógicos adequados.
Enquanto talentos como Brad Cohen brilham para o mundo, por falta de investimentos na educação, crianças inteligentes e criativas, espalhadas pelas milhares de salas de aula do nosso País, aguardam o momento no qual poderão transpirar todo seu potencial. Só cabe a nós deixarmos aprender com elas.