Ensino Universal

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Nos últimos anos, o Brasil cresceu muito em termos de conscientização sobre a importância da acessibilidade na vida das pessoas. O tema ganhou destaque na mídia e hoje não tem um dia que não seja pauta de matéria nos jornais. No entanto, para disseminar ainda mais a ideia, é preciso que ela seja discutida desde cedo pelos jovens. E, nesse contexto, as Universidades assumem um papel fundamental.
 
Você já parou para pensar sobre o porquê de cegos, cadeirantes, surdos…estarem em uma posição tão ruim no mercado de trabalho? Aliás, já parou para pensar em quantas pessoas com deficiência no Brasil trabalham e têm carteira assinada? Apenas 323 mil de um total de 27 milhões! Estas pessoas não tiveram sequer acesso à educação base. E quando nos referimos a uma formação superior os números assustam. Menos de 1% das pessoas com deficiência cursam uma faculdade.
 
No início de julho, conversei com uma estudante de pós-graduação. Ela, que teve paralisia cerebral, é cadeirante e concluiu o curso de Direito em uma conceituada universidade particular de São Paulo. Durante os cinco anos do curso, apesar de conseguir circular por muitas áreas do campus, ela passou por dificuldades pelo fato do lugar não ser completamente acessível. O prédio no qual estudou possuía três andares e ela tinha que ser carregada pelas escadas para as aulas nos andares superiores. Somente depois que a classe inteira não subiu para uma aula, a mesma foi transferida para o térreo.
 
Assim como nesse caso, muitos estudantes com deficiência não podem participar de diversas atividades em laboratórios e estúdios. Num primeiro contato com o tema pode-se pensar que seja simples tornar uma Universidade acessível: bastaria a instalação de rampas nas entradas da própria universidade e das salas de aula. Mas na verdade, não é bem assim. Universalizar o ensino é dar acesso às pessoas aos espaços, mas atendendo suas diferentes necessidades. É oferecer ferramentas acessíveis para cegos, surdos, cadeirantes, obesos, idosos… Como diria Mauro Chaves "A acessibilidade é o instrumento arquitetônico da dignidade". E quem não quer ter uma vida digna?
 
É muito importante entender que quando falamos em acessibilidade, estamos nos referindo ao direito de ir e vir de todo o cidadão. E para todos os lugares, inclusive, às universidades, locais que pelo próprio título que carregam deveriam ser universais, ou seja, acessíveis para todos. E não só no sentido de acesso físico, mas também no que se refere a atitude. O corpo docente deve estar preparado para lidar com alunos que possuem algum tipo de deficiência. Além disso, cursos como o de Arquitetura e Design deveriam ter em suas grades as disciplina do Desenho Universal. Este preparo por parte da instituição vai refletir na maneira como os alunos também vão lidar com seus colegas com deficiência. A informação em um lugar como a universidade é muito importante para engendrar o respeito e provocar o olhar para a outro. Lembre-se que a acessibilidade começa com a nossa atitude.
 
Vivemos em uma diversidade de pessoas, mas em plena padronização de serviços e espaços. Quantas pessoas com deficiência você conhece na sua universidade? Já foi atendido por um advogado cego? Ou teve aulas com um professor cadeirante, por exemplo? Universalize o ensino para universalizar as oportunidades e contemplar de fato a diversidade em sua plenitude. Tá aí uma boa lição.

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