A beleza do tempo

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Hoje em dia, não há mais desculpa para não querer envelhecer. Para aqueles que fogem dos cabelos brancos, a indústria da beleza investe pesado no mercado dos inconformados. Neste setor, a medicina cresceu tanto, que hoje o Brasil é um dos principais centros de cirurgia plástica e estética do mundo. Nossos profissionais são referências mundiais e prometem tornar perfeito, ou ao menos amenizar, qualquer defeito. Pelo visto, as pessoas estão encarando o envelhecimento como uma aberração e não um avanço da vida.

Com tantas novidades na área médica e gente para todo o lado escondendo os sinais do tempo, há aqueles que não podem fazer uma cirurgia plástica, tampouco cuidar da própria saúde e garantir qualidade de vida. Refiro-me a maioria dos idosos do nosso país, que não estão atrás de nenhum milagre estético, mas procuram mesmo uma forma de viver com dignidade. Trabalharam a vida inteira e não se importam com os sinais do tempo que deflagram em seus rostos, mas em contrapartida não aceitam viver à margem de uma sociedade que condena o "velho". O vintage está na moda, mas o idoso, definitivamente, não.

Será que investimos tanto para tornar as pessoas cada dia mais jovens que nos esquecemos de pensar nos cuidados para quando a velhice de fato bater a nossa porta?

Tudo bem que a expectativa de vida cresceu nos últimos tempos e hoje temos cidadãos conscientes e felizes aos 90 anos.  Mas falamos de uma minoria, partindo do fato de que a maior parte da população brasileira é desfavorecida socialmente. Segundo um estudo assinado pelo economista Paulo Tafner e a estatística Márcia de Carvalho, ao final da próxima década, as pessoas maiores de 40 anos serão quase metade dos brasileiros, além disso, os maiores de 60 deixarão de um décimo para ser um quinto do total da população. A nação vai envelhecer e os investimentos na área se farão mais necessários que nunca, se não quisermos aumentar o quadro de idosos pobres no País.

Com tanto culto aos corpos perfeitos esquecemos da beleza de um bom cabelo branco, aquele que mostra a construção de uma vida, com amores, realizações e muitas vidas concebidas ao mundo. Criamos formas para deixar rostos perfeitos, mas não damos acesso de qualidade para o idoso desfrutar do que ele considera bonito ou que o faça bem, como ter acesso a um sistema de saúde decente, uma aposentadoria digna e serviços acessíveis para as suas condições físicas. Isso sim é esteticamente perfeito: pessoas de diferentes gerações tendo a chance de conviver de maneira saudável, e sem neuras de encarar o tempo, cada um com a sua beleza.

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