Na semana em que ocorre o ‘Dia Internacional da Síndrome de Down’, comemorado em 21/03, não me faltam motivos para acreditar cada vez mais no potencial das pessoas com deficiência intelectual, associadas e, muitas vezes, representadas por aqueles que carregam a trissomia do cromossomo 21 em seu DNA – origem genética da síndrome de Down.
Recentemente, fiquei super feliz ao entrevistar a Beatriz Pierre Paiva, de 33 anos. Ela, que tem a síndrome de Down, junto a um grupo de jovens da Associação Carpe Diem representou o Brasil na sede da ONU, em Nova Iorque. O motivo? Bia e seus colegas escreverem uma cartilha sobre acessibilidade na comunicação.
O guia chamado “Mude o seu falar que eu mudo o meu ouvir” é uma prova de que a deficiência só está no olhar da sociedade. Se você mudar a sua forma de agir, a sua percepção, verá que a convivência com a diversidade faz parte da vida e da sua evolução como ser humano. Os jovens da Carpe Diem provam oferecendo, literalmente, uma lição. Mas, assim como eles, outras pessoas com a síndrome esbanjam por aí sua sensibilidade e vontade de viver.
Sortuda como sou, tive o prazer de conviver com algumas dessas pessoas. Nada mais justo que falar dessa galerinha talentosa…
Edgar Epíscopo, de 34 anos, tem síndrome de Down e faz parte da minha equipe de trabalho há mais de dois anos. Durante este tempo, que lhe serviu de aprendizado sobre diversas coisas, o Didi, como é conhecido por nós, ganhou a minha confiança e a de todos os funcionários que trabalham comigo para desenvolver algumas tarefas como arquivar e organizar os documentos, clipar os jornais e arrumar os armários. Atualmente, faz pesquisas na internet e cadastros.
Ele, que sempre foi super tímido – fala baixo, tem vergonha de se expressar no telefone, entre outras coisas que o acanha – passou a ter mais segurança para se expressar publicamente. Hoje, além de se virar sozinho na hora de vir trabalhar (a embarcar no metrô, inclusive), ele sensibilizou muitas pessoas de seu ambiente de trabalho, contribuindo para a mudança de olhar sobre a deficiência intelectual – que de todas as deficiências é a que mais encontra barreiras no mercado de trabalho, um paradigma que há décadas teima em imperar na nossa sociedade: o de que pessoas com deficiência intelectual seriam incapazes.
História de superação parecida com a de Didi, ocorreu com Mariana: a minha amiga Mariana Amato, que concluiu o ensino médio pelo Programa Educação de Jovens e Adultos (EJA), foi a primeira funcionária com síndrome de Down a ser contratada para trabalhar em uma instituição financeira. Competente, Mariana prestava atendimento ao público na biblioteca do banco, derrubando mais um preconceito: o de que pessoas com síndrome de Down têm problemas de relacionamento social.
Bia, Didi, Mariana e tantos outros jovens são retratos da inclusão. Talentosos, espontâneos e cheios de vida, eles lutam com a arma mais poderosa do mundo, o amor, para mudar um quadro cruel no nosso País: o mercado de trabalho para pessoa com deficiência intelectual, cujo índice de contratação é o mais baixo entre todos os tipos de deficiência.
Vamos refletir sobre o que consideramos capacidade e o que esperamos de cada ser humano em sua essência. Deficiência é não contratar.