Eu amo me mexer!

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Costumo dizer que movimento existe em todo mundo. Ele só precisa ser provocado. Antes de ficar tetra, encarava maratonas com mais de 100 km e 20 horas de prova. Hoje, em uma cadeira de rodas, minha disposição e energia continuam as mesmas. Estou sempre buscando criar algum exercício que, além de me pôr em movimento, possa servir de exemplo para outras pessoas.

O mais interessante disso tudo é que, para eu me mexer, preciso trabalhar muito o meu cérebro, um esforço além do físico, uma vez que o que penso não reproduz um movimento muscular tradicional. Fico dias olhando para as paredes da minha casa, meus tecidos e elásticos, quebrando a cabeça, buscando soluções que me tirem do estático. Quando conquisto uma nova posição que me proporciona um novo movimento, o prazer é singular e a alegria de poder dividir esses experimentos é maior ainda. Por isso, resolvi escrever este texto para compartilhar um pouco dessa rotina com vocês.

Muita gente acha que meus treinos, muitas vezes compartilhados nas redes, são tratamentos ou sessões de fisioterapia. Ou que minha forma física é um reflexo da minha condição econômica. Não são. Apenas me sinto uma tetra-atleta, que adora se sentir como qualquer pessoa. O que me nutre de forças para ser muito mais do que uma cadeirante é minha vontade de inventar movimentos e posições fora da cadeira de rodas.

Aliás, cadeirante tem que sair da cadeira. Para aliviar a pressão e evitar escaras, por exemplo. Se tem movimento dos braços é possível se deslocar sozinho para outro lugar mesmo sentado. Se é tetra como eu, pode pedir para que alguém o faça. É só pedir para uma pessoa abraçar seu tronco e lhe levantar.

Uma das coisas que mais gosto de fazer em casa é ficar pendurada e com partes do meu corpo suspensas por tiras de pano. Quando faço isso com meus braços e pernas tiro o atrito e a gravidade. Isso faz com que o músculo seja trabalhado. E qualquer pessoa pode fazer isso! Só precisa de uma parede para pregar um gancho ou prego onde o lenço possa ser amarrado. Você ainda pode colocar um colchão no solo para se alongar. Também pode usar sacos de mantimentos para fazer de peso de levantamento… Enfim, com vontade, a criatividade surge.

O Instituto Mara Gabrilli lançou, inclusive, uma cartilha de exercícios para pessoas que sofreram lesão medular poderem se exercitar em casa. O material pode ser acessado no site.

Com um pouco de movimento de ombro, consigo mexer um pouco de tronco. Com um pouco de tronco, consigo mexer um pouco do braço… Ou seja, quando provocamos um movimento, a reação é em cadeia.

Concentre-se em seu corpo: estude ele antes de tentar uma posição. Veja como seu pé ficará, seu braços, suas pernas… Preste atenção em você, tenha consciência da sua condição corporal e a instigue. Pense que quando você passa a provocar um movimento que não está ali, aparente, seu corpo já será modificado desde a primeira tentativa, por mais sutil que possa parecer as mudanças. A tendência é sempre evoluir.

Acordo mais cedo para ter um tempinho para me exercitar. Faço isso onde estiver: em casa, no hotel, em São Paulo ou Brasília. Dedico cada milésimo do tempo a produzir e gerar movimentos externos e internos. Não importa o lugar, a recompensa é estar pronta (e feliz) para encarar qualquer parada e melhorar a minha vida e a de outras pessoas.

E aí, vamos lá?!

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