Auxiliar a inclusão escolar de crianças com Autismo é um dos trabalhos voluntários que presto em nossa organização. Por isso, foi gratificante conhecer aquela professora, eu estava ali a pedido da família, que preocupada, desejava um progresso mais acelerado de seu filho com Autismo, mas a sua primeira afirmação me fez ver que era uma pessoa determinada: “ele é o menor dos meu desafios”. Diante dos mais de trinta alunos, constatei que ela estava certa.
Havia crianças agitadas, agressivas e uma delas realmente se destacava. Não nos permitia o diálogo, simplesmente não respondia às perguntas. Saía o tempo todo da sala e nunca tinha sequer pego no lápis uma única vez. Diante da minha surpresa a posição da escola foi ética e se limitaram a me informar que a família não concordava em encaminhar a criança para um especialista e responsabilizavam a escola por seu baixo desempenho. Os pais sequer aceitavam a adoção de posturas diferenciadas ou um diálogo sobre o visível atraso no desenvolvimento do filho.
Como aquele caso não tinha ligação nenhuma com o que eu acompanhava, não pude interferir diretamente, mas observei durante o ano aquela criança. Até que ponto a negação daqueles pais (a quem não me cabia julgar) iria interferir no seu futuro? Percebi sua solidão, seu olhar que teimava em se manter distante, suas saídas frequentes da sala de aula e sua tão peculiar desconexão com os colegas, que me fizeram pensar até mesmo na possibilidade do Autismo.
O medo do rótulo muitas vezes justifica o injustificável. Só que o rótulo não deve ser visto como um delimitador, ele pode ser apenas um lugar de identidade, onde comportamentos descabidos são compreendidos pelos danos da estrutura biológica e modelados com estratégias muito específicas. Por que perder tempo negando uma realidade visível a todos e tão sofrida para quem se sabe diferente? O sentimento de inadequação é a queixa mais contundente das pessoas com Autismo que conseguem nos descrever seus sentimentos.
Aos milhares de pais que seguem pela via da negação, deixo minha compreensão por seu processo pessoal de assimilação desta realidade tão difícil que é ter um filho com deficiência. Mas fica acima de tudo meu apelo para que busquem ajuda para seus filhos, pois chegará a hora em ele precisará se colocar no mundo por conta própria e toda a estrutura alterada em seu desenvolvimento cobrará seu preço.
A despeito do dia 02 de Abril, instituído pela ONU como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, é preciso registrar que a data fez com que o Brasil se vestisse de azul e que a imprensa trouxesse à tona de forma incisiva este tema intrigante. Se 1 em cada 110 crianças nascidas são afetadas pelo Autismo estava mais do que na hora do Brasil acordar para a sua existência. Para mim, a onda azul que tomou conta do Brasil, me trouxe o acolhedor espaço onde me identifico, me solidarizo e me sinto igual a milhares de outras mães que vivem não apenas as dores, mas as alegrias de ter um filho especial.