E os tambores já se agitam, cuícas, surdos e reco-recos entoam a mesma melodia. É hora de os puxadores de escola de samba começarem o aquecimento vocal e seus vocalizes já podem ser ouvidos à distância. Por todo o Brasil foliões escolhem suas fantasias, camisetas e abadás são customizados. Os blocos de rua estão por todos os 4 cantos do Brasil e, em um ano de paz nas ruas, todos se divertem, dançam e cantam em uníssono.
Talvez, nesse ano, tenhamos um carnaval mais democrático, um carnaval para todos. A amostra está muito boa, pude ver várias pessoas com deficiência nos blocos pré-carnaval e não digo apenas pessoas com deficiência física, vi cegos, surdos e pessoas com deficiência intelectual.
As prefeituras estão fazendo sua parte, algumas no improviso, outras com a coisa mais estruturada, outras cometendo alguns erros, a meu ver, mas todas se mobilizando para que o carnaval seja uma festa para todos.
A prefeitura de São Paulo disponibiliza ingressos para o desfile das escolas de Samba com 50% de desconto para a pessoa com deficiência e para um acompanhante. Existe, também, a possibilidade de uso do “Bilhete Único Especial – Pessoa com deficiência” para identificação, que é expedido pela SPTRANS.
Já no Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência distribuiu, gratuitamente, 300 ingressos para pessoas com deficiência para cada dia de desfile do Carnaval 2016 para frisa do Setor 13 do Sambódromo. É importante destacar que cada pessoa com deficiência tem o direito de levar 1 acompanhante.
Enquanto isso, no Recife, a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos garantiu um espaço para pessoas com Deficiência no camarote de um dos maiores blocos de carnaval recifense, o Galo da Madrugada. As inscrições foram feitas por telefone e, para atender a demanda de foliões surdos, por meio de um e-mail disponibilizado pela organização.
Em Salvador, serão instalados dois camarotes para pessoas com deficiência e idosos. Um dos camarotes será instalado pela prefeitura na Praça do Campo grande e o outro na Praça da Piedade. A prefeitura tem como meta atrair 3 mil pessoas até esses locais. O acesso aos cadastrados será gratuito, com direito a cada um levar um acompanhante. Os convites serão feitos nos dias de folia por equipes da Secretaria Municipal de Promoção Social, Esportes e Combate à Pobreza. Outro ponto a se destacar é a verificação diária de acessibilidade nos pontos do circuito, viabilizando, assim, o ir e vir das pessoas com deficiência e idosos.
Apesar de achar muito bacana a preocupação em dar visibilidade e pertença a esse público específico, conferindo a todos o direito de participar da maior festa popular do Brasil in loco, a segregação imposta por essa distribuição me incomoda muito. Não acredito que essa segregação de isolamento favoreça a inclusão das pessoas com deficiência. Mais uma vez, como em muitas da nossa história, as pessoas são colocadas em caixinhas para que não atrapalhem os que desejam ir e vir, ou para que não causem constrangimentos desnecessários (oi?) ou para que, quem sabe, seja protegidas (oi?, mais uma vez). Mas tem o lado bom, esse é o primeiro passo para que em 2017 tenhamos um carnaval mais inclusivo…
Os comércios populares ainda continuam com dificuldades de acessibilidade para pessoas com deficiência, as ruas não permitem o tráfego das cadeiras de rodas e as lojas não comportam seus tamanhos. Os vendedores não estão preparados para lidar com esse público específico. Aliás, quando a questão é humana, o comércio em geral não está preparado para esse tipo de atendimento. Mas esse é um assunto para uma outra coluna.
Que todos nós tenhamos um excelente carnaval, e que saibamos aproveitá-lo com responsabilidade e alegria.