Somos 30 milhões de pessoas com deficiência no Brasil. Você já parou para pensar que este enorme contingente, além de responsabilidade, tem nas mãos um forte poder de transformação? Esta é a hora mais propícia para refletir sobre o papel social que você e outras milhares de pessoas detêm. Afinal, do total da população brasileira com deficiência, cerca de 70% possuem mais de 16 anos, e portanto, são eleitores.
Embora tenhamos avançado, ainda falta muita coisa com relação às políticas públicas voltadas para as pessoas com deficiência no Brasil. Isso porque, por muitas décadas, este público foi tratado por um sistema de governo assistencialista que o encarava como um incapaz. Esta concepção equivocada sobre o universo refletia na realidde de muitas pessoas, que sem acesso à saúde e à educação acabaram sendo subtraídas de um direito, que para mim, é o mais importante: o de exercer a sua cidadania.
Hoje, me orgulho quando vejo que esta concepção está mudando. Em alguns lugares como São Paulo, a ideia de que a pessoa com deficiência é coitada e incapaz deixou de ser uma crença. Contudo, a participação ativa desta população na política ainda é muito pequena. Faltam representantes com deficiência no Poder e no eleitorado participativo também.Aliás, muitas pessoas com deficiência deixam de votar pela falta de acessibilidade nos colégios eleitorais, que não estão preparados de nenhuma forma para receber eleitores com deficiência. Além do espaço arquitetônico não ser planejado, falta preparo para lidar com este público.
Além de poucos representantes na política, não podemos contar com o esclarecimento da maioria dominante. Um exemplo disso é a própria maneira como somos designados. É mais comum do que se imagina ouvirmos de governantes expressões como portadores de deficiência ou necessidades especiais, termos que foram abolidos e trocados pela terminologia 'pessoas com deficiência', adotada por uma Convenção da ONU sobre os direitos de quem não porta nada, e sim possui. O equívoco, considerado até pequeno em comparação a posturas preconceituoas, é um exemplo simples da falta de informação sobre o assunto. Um erro cometido por profissionais que por destreza deveriam conhecer a terminologia. Afinal, política é a ciência que estuda a melhor qualidade de vida de uma cidade. Logo, político deveria ser aquele que conhece a população pela qual foi eleito. Com todas as diferenças físicas, sensoriais e intelectuais que cada um destes indivíduos possa apresentar.
Temos uma das legislaçãoes mais completas no que diz respeito ao tratamento concernente à pessoa com deficiência. Mas lei sem fiscalização não funciona. Além disso, sem informação sobre o assunto, a população acaba nem sabendo da existência destes recursos. O processo de exclusão começa aí, na falta de informação das pessoas. Pense e cobre dos governantes mudanças que, aliás, devem começar pelo acesso a informação. Um cidadão bem informado de seus direitos sabe o que deve cobrar. E o principal: sabe a quem deve fazer esta cobrança.
A sociedade precisa entender que este tema faz parte da vida do coletivo. Não se trata de tema isolado, de um segmento ou de uma política específica. Pessoas com e sem deficiência fazem parte de um mesma nação, de um mesmo regime, chamado Democracia. Nele, o poder do voto é concedido a todos, inclusive aos que não andam, não enxergam ou não ouvem. Está na hora de demonstrarmos esta igualdade nas urnas e cobrarmos por ela depois das eleições.