Dayse Cristiane

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Tive poliomielite aos dois anos de idade, passei por muitas transformações na minha vida e enfrentei preconceitos que me fizeram sofrer muito.

Usei aparelho ortopédico, que me fez sentir como um robô, mas também me ajudou muito. Aprendi a andar com ele e me sentia bem, mesmo sendo o alvo das atenções por onde passava. Com ele, eu tinha mais independência. Tenho mais três irmãs (sou a mais velha). Sofri preconceitos dentro da minha própria casa. Meu sonho era ser bailarina, até que percebi que não poderia. Mas isso não me abalou muito. Esse foi um dos sonhos que não pude realizar.

Até meus dezoito anos ficava presa dentro de casa. Só saía para ir a escola e, às vezes, muito raras as vezes, com meus pais. Tinha medo de tudo e todos porque quando saía era sempre o alvo das atenções. Não tinha quem não me olhasse, me sentia muito mal porque eu usava aparelho dos pés até a cintura. Então, resolvi não sair mais de casa.

Quando fiz dezoito anos, mudamos de casa e fomos morar em uma casa que tinha o comércio da minha família na frente e a casa nos fundos. Tinha uma janela no quarto da minha mãe, que dava para a rua. Esse era o meu lugar preferido. Ficava horas na janela e foi assim que fiz as minhas primeiras amizades. Sempre ficava olhando umas meninas que andavam sempre juntas (achava muito legal). Elas iam pra escola, passavam arrumadas pra irem em alguma festa, etc.

Até que um dia falei um 'oi' para uma delas. Foi o suficiente para fazer amizade (mesmo com medo). De repente, da janela, já estava conversando com todas elas. Até que um dia uma delas me fez a pergunta que eu temia: ‘porque você só fica na janela, vamos conversar no portão?’ Eu tremia como nunca, desconversei, mas não adiantou e ela me perguntou de novo. Acabei concordando, mas pensava que não iria sair para ela não pensar sei lá o que.

No horário combinado, eu não saí. Deixei pra lá. Quando já tinha passado da hora marcada, resolvi sair pra ir na casa ao lado (eram duas casas). Foi quando eu percebi que elas estavam no portão. Eu quase desmaiei quando ouvi uma voz me falando: ‘agora que você resolveu sair, não é?’ Meu coração quase saiu pela boca. Para o meu espanto, ela não se incomodou por eu usar aparelhos.

Em resumo, essa garota foi uma das minhas melhores amigas. Meus medos aos poucos foram sendo superados, casei, tive dois lindos filhos, estudei. Hoje, estou no meu primeiro trabalho com registro na carteira e tenho muito mais outras histórias da minha vida que, quem sabe, em outro dia posso contar.

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