Sandro Amaro

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Meu nome é Sandro Amaro da Silva, tenho 39 anos, sofri um acidente de automóvel há 16 anos (1993), onde fraturei a coluna cervical; perdi os movimentos das pernas e braços (parcialmente). Na ocasião fiquei completamente paralisado do pescoço para baixo.

Os médicos me deram o diagnóstico de tetraplegia, vi os sonhos de um estudante universitário irem embora em segundos. Tinha um ótimo emprego num banco, namorada e cursava engenharia elétrica. Parecia que tudo havia acabado.

No primeiro ano após a lesão medular, todas as coisas eram extremamente difíceis, tive que reaprender as atividades mais elementares. Após 3 anos do acidente, lentamente fui deixando de pensar como alguém que anda e decidi usar aquilo que me restava, a vida.

Prestei novamente o vestibular em 1996, fui aprovado em análise de sistemas. Era o recomeço.

Com o passar do tempo, os movimentos dos braços foram melhorando, mas sobraram poucos movimentos nas mãos. Em 1997, tomei conhecimento de alguns cadeirantes que dirigiam, mas com a minha limitação, os médicos diziam que era impossível. Incrível, mas quando eu não tinha deficiência, não me recordo de conhecer, muito menos de ter amigos com deficiência. Comecei a pesquisar sobre este mundo, até então desconhecido para mim, e sobre carros adaptados, que até hoje me fascinam. Coloquei na minha cabeça que voltaria a dirigir, passei então a pesquisar e conhecer muitos deficientes, seus carros e este novo mundo.

Neste mesmo ano, conquistei mais uma vitória, voltei a dirigir; não apenas meu carro, mas minha vida. Na minha nova vida, coloquei como meta conhecer mais e mais sobre deficiências e melhorar minha qualidade de vida. Através da minha T.O. (terapeuta ocupacional), conheci uma ONG que dava cursos de empreendedorismo e geração de renda para pcds (pessoas com deficiência). Neste curso conheci 2 cadeirantes, dos quais me tornei muito amigo e não sabia o que o futuro nos reservara. O pessoal desta ONG sempre me convidava para dar depoimentos sobre os cursos e como estes tinham mudado minha vida, até que fui convidado para dar aulas também. Nesta fase, minha vida tinha voltado a uma certa normalidade; paralelamente continuava estudando inglês e me correspondendo com um amigo que morava no exterior, para o qual sempre manifestava meu desejo de conhecer outra cultura e aperfeiçoar meu inglês. Um belo dia, este amigo me ligou e disse que conseguiu com que um missionário britânico (que também é professor de inglês), que recebia estudantes estrangeiros me recebesse por um mês em sua casa e que eu pagaria apenas a comida e a passagem, foi uma experiência e tanto, um mês em Londres, praticando muito meu inglês, pois meu anfitrião não falava uma palavra em português.

Neste ínterim, voltei a ter contato com um dos cadeirantes que fizeram o curso comigo, eles me convidaram para fazer parte de uma associação de pcds em Votorantim, minha cidade; no começo relutei, mas acabei aceitando. Isto foi em 2004, na época, a instituição não tinha muita estrutura, daí aproveitei as minhas amizades e convidei umas amigas, uma T.O, uma fonoaudióloga e outra psicóloga para serem voluntárias na entidade e começamos o trabalho terapêutico, no ano seguinte fui eleito presidente da instituição e como o trabalho crescia muito convidei uns amigos para me ajudarem no trabalho da associação. O trabalho crescia muito, e acabei sendo convidado para ser o presidente do conselho municipal das pessoas com deficiência. A nossa vitória que marcou a história do município foi devido ao mesmo não possuir transporte adaptado para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida, fizemos requisição ao poder público e à empresa de transporte para que tal situação fosse solucionada, a qual não foi a princípio. Então, mobilizamos os nossos associados, amigos e a imprensa local e paramos a avenida principal em nossa cidade, em frente à prefeitura e entregamos ao prefeito uma carta com esta e outras reivindicações importantes para as pessoas com deficiência (hoje, contamos com 10 ônibus adaptados).

O nosso exemplo foi copiado por cidades da região, como Sorocaba. Finalizando, atualmente sou coordenador técnico na ADV – VIVA LEGAL, dou palestras nas empresas sobre contratação de pcds, a associação tem um trabalho bastante atuante em Votorantim, conta com um cadastro de mais de 860 pessoas, o conselho já realizou 2 seminários de educação inclusiva e recebi os títulos de mérito comunitário da câmara municipal de Votorantim e Sorocaba pelos serviços prestados pela associação em prol das pessoas com deficiência. Em 2009 passei a apresentar um programa sobre acessibilidade pela internet, chamado Acesso Livre (www.twmidia.com) e em novembro do mesmo ano fui eleito presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – de Votorantim.

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