Vera Cristina Moreira Salles

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Vera Moreira Salles vive o dilema de conciliar as limitações físicas com a mente e o coração em atividade máxima. Foi na adolescência que Vera começou a sofrer por ser diferente. Até então, não se importava muito com a deficiência e até gostava de ser protegida pela família. “Por volta dos 15, 16 anos, vendo as minhas irmãs indo aos bailinhos e namorando, me revoltei com a minha situação. Ficava me perguntando por que isso tinha que acontecer comigo”. O lado bom dessa revolta é que Vera se motivou a fazer exercício para melhorar seus movimentos e poder ir aos bailes. “Eu enfaixava uma perna até ficar bem grossa e dizia que tinha sofrido um acidente muito grave. Um dia o garoto que eu gostava e sabia das minhas dificuldades quis dançar comigo. Eu perguntei 'você tem certeza?' e ele disse que sim, mas não sabia muito bem como fazer. Eu pedi então para ele me segurar bem firme junto dele. No meio do salão, o diretor do clube pediu para a gente se afastar, porque estávamos muito agarrados. A dança terminou ali e eu fiquei morrendo de vergonha”, conta Vera. 

Os relacionamentos amorosos são os mais afetados pela síndrome da disfunção neurológica, não pelas necessidades especiais que ela provoca, mas pelo preconceito. “O receio de se relacionar com deficientes vem muito da falta de conhecimento, principalmente sobre a vida sexual. As pessoas nos olham como se fôssemos assexuados, e até mesmo em congressos é difícil encontrar especialistas que abordem esse assunto”, reclama Vera, que já sofreu com a rejeição de alguns namorados, um deles também com deficiência motora. “Depois de algum tempo, ele me disse que gostava muito de mim, mas, para casar, ele queria uma mulher normal.”

Vera acabou se conformando, pois confessa que também sonha em se casar com um homem sem limitações físicas. “Eu preciso conviver com alguém que possa me ajudar, pois há muita coisa que não consigo fazer sozinha. E, para falar a verdade, eu ainda sonho com um príncipe encantado.” O homem ideal parecia ter chegado no ano retrasado, e não veio montado num cavalo branco, mas via internet. Vera conta que o computador é seu principal lazer, e conheceu o Carioca em um site para deficientes. “Ele se apresentava como alguém sem preconceitos, que queria fazer amizades e dizia achar muito romântico passear empurrando a cadeira de rodas da namorada. Começamos a trocar mensagens e as afinidades logo apareceram. Ele insistia em me conhecer, mas eu relutava porque temia perder o encanto da nossa relação”.

Na semana do seu aniversário, o Carioca – que na verdade vivia no Mato Grosso do Sul – chegou de surpresa. Segundo Vera, foram dias de pura felicidade para ela, mas que terminaram quando ele foi embora. “Alguns dias depois recebi um e-mail em que ele dizia que não suportaria conviver com as minhas dificuldades e, que detestou ir comigo ao shopping e em restaurantes porque todo mundo ficava olhando. A realidade acabou com todo o romantismo.” Enquanto o amor não acontece, Vera trabalha para reestruturar um site para deficientes físicos que ela criou, mas que saiu do ar por divergências com o provedor. “Para compensar as limitações do meu corpo, a minha cabeça e o meu coração estão sempre em total atividade,” afirma Vera.

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