Longe de ser prodígio

Pela condição de pessoa com deficiência, que foi julgada como incapaz por séculos, e nas últimas décadas vem mostrando cada vez mais suas capacidades em diversas atividades e segmentos da sociedade, por vezes, muitas pessoas rotulam aquele que realiza algo cotidiano no esporte, trabalho, educação, nas artes, sai de balada, viajar, como exemplo de força e superação.

Compartilhe:

Pela condição de pessoa com deficiência, que foi julgada como incapaz por séculos, e nas últimas décadas vem mostrando cada vez mais suas capacidades em diversas atividades e segmentos da sociedade, por vezes, muitas pessoas rotulam aquele que realiza algo cotidiano no esporte, trabalho, educação, nas artes, sai de balada, viajar, como exemplo de força e superação.

O que, na verdade, são apenas pessoas querendo realizar alguma atividade, independente da sua condição física, sensorial ou intelectual. Até porque acredito que todas pessoas têm essa capacidade de superar algo ou demonstram essa força em algum momento da vida. Tem gente que tem essa superação como um atleta que bate seu próprio recorde ou como um vendedor que bate sua meta de venda.

Não vejo como ruim ou uma ofensa alguém achar que uma pessoa com deficiência seja exemplo de superação ou força; apenas acredito que, para realmente termos uma sociedade igual e inclusiva, é preciso que todos entendam que isso tem a ver com a vontade, oportunidade e/ou disposição de cada pessoa em fazer algo, independente de ser pessoa com deficiência ou não.

Além disso, acho que qualquer pessoa pode ser inspiração para outra, seja pela forma como desenvolve uma atividade, a forma como se dedica, a paixão que coloca ou até mesmo o desempenho que alcança, e não por ser pessoa com deficiência, e essa condição estar à frente da atividade que desenvolve.

Eu, por exemplo, já ouvi na balada que sou superação, mas não superei nada para sair de balada – só gosto de sair e curtir. No âmbito esportivo, vem a prática de atividades físicas. Esta tem a ver com oportunidade ou vontade. Há muitas pessoas que, por falta de tempo, não conseguem ou simplesmente não querem. A palavra superação ganha contexto real quando melhoro minhas marcas, minha força e aperfeiçoo minhas técnicas. Aí sim estou me superando.

E por falar em oportunidade, em relação à pessoa com deficiência, isso faz toda a diferença. Por falta de oportunidade, nem todos realizam atividades cotidianas. Como não fazem reabilitação ou habilitação, então como vão desenvolver atividades se não aprenderam a lidar com as limitações da sua deficiência? O despreparo social é outro fator negativo, assim como a falta de acessibilidade nas calçadas ou transporte, que limita, muitas vezes, o deficiente ao ambiente residencial.

Existe também o outro lado, de algumas pessoas que querem esse rótulo de exemplo, de força ou superação, por terem alguma deficiência e desenvolverem alguma atividade, o que vai contra a construção de uma sociedade inclusiva. Além do quê, podem serem julgadas por isso, ou seja, quando um dia estiverem mal com algo em relação à deficiência ou outro motivo, pode cair o mito e a pessoa ser vista como quem quer passar uma coisa que não é verdadeira.

Por outro lado, a pessoa com deficiência tem o direito, como qualquer outra pessoa, de ficar mal por algum motivo, assim como ser referência de algo bom, mas sem que a deficiência esteja relacionada como exemplo de superação ou força.

Enfim, ter deficiência e realizar algo não faz alguém prodígio. É só alguém que desenvolve atividades cotidianas como muitas outras pessoas.

Uma resposta para “Longe de ser prodígio”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *