Minha singularidade no composto das coisas comuns

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Bom pensar que a gente caminha por estradas comuns e que nós, mesmo sendo tão diferentes, somos, na verdade, muito parecidos.

Como quando você descobre que aquele nervosismo que te tira o sono quando alguma coisa diferente está pra acontecer, é vivenciado também pela pessoa a quem  você admira justamente por ter coragem e desenvoltura. Ou quando você descobre os pontos fracos de quem você mais julgava ser forte e os seus pontos fracos já não parecem tão fracos assim.

A identidade é uma coisa engraçada demais, porque ser único é tão bom, saber que aquele tanto de risquinhos na ponta do seu dedo é um desenho exclusivo, só seu, e que ninguém no universo tem outro igual, te traz um sentimento bom. A exclusividade tem preço muito alto na sociedade da produção em série! O que nos faz únicos tem assim um valor incalculável e as pessoas se empobrecem muito, deixam de se ver como únicos no mundo, deixam desaparecer suas singularidades na cultura do senso comum.

Às vezes, encontro gente que não sabe mais dizer por que gosta ou desgosta de determinadas coisas presentes em suas vidas, se deixaram levar assim no vento das opiniões alheias, tão bem soprados pelas mídias e pelos marqueteiros.

O ruim é que as pessoas não fazem felicidade quando suas próprias escolhas não tem uma razão de ser.

Se a singularidade nos destaca e precisa ser descoberta como um tesouro e guardada como uma jóia, por outro lado, ela só tem valor quando destacada no grande mosaico de nossas igualdades. Porque gente é assim mesmo, um composto de infinitas partes de coisas comuns agrupadas de uma forma única.

Por isso, assim como somos únicos, somos também comuns – essa é a beleza – e ser comum é muito bom, pois é o que mais nos aproxima dos outros, nos faz ter amigos e compreender, nos move do solitário para o solidário e preenche o nosso mundo interno com boas justificativas para nossas esquisitices e também para nossas falhas.

Afinal, não preciso me cobrar tanto quando vejo em muitas outras pessoas aquilo que me incomoda. E que legal perceber que um amigo carrega um sentimento que eu também tenho e chora as mesmas lágrimas que eu também choro.

Talvez no fim das contas, depois de tanto buscar e assumir a nossa identidade, depois de tanto pagar para ser exclusivo, a gente esteja de fato aprendendo mais sobre a beleza de também ser comum e fazendo do compartilhar, um novo caminho para dividir tudo o que temos de igual.

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