Por que abracei a causa das pessoas com deficiência

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Em dezembro de 2010, enquanto fazia a acessibilidade de uma série de vídeos gravando a interpretação de Libras, pude conviver com dois irmãos surdos e intérpretes da língua de sinais – ela oralizada, ele professor da língua.

No intervalo entre as gravações, ela disse que os dois estavam curiosos e me perguntaram por que eu abracei a causa das pessoas com deficiência, se eu não tinha nenhuma.

Na tentativa de eliminar essa aparente dissonância, expliquei a minha militância pela causa. Contei que desde os 17 anos fui militante estudantil. Na universidade, fui presidente do Diretório Central da Federal de Uberlândia, em Minas Gerais e, na mesma época, fui um dos fundadores do PT local. Já em São Paulo, trabalhei no governo da prefeita Luiza Erundina (1989-1992).

Após longo distanciamento da militância diária, fui convidado, em 2005, para ser um dos fundadores da ONG Mais Diferenças – que tinha a inclusão educacional de pessoas com deficiência como objetivo.

Até então, sem nenhum contato com as questões da deficiência, direcionei minha atuação para a área de acessibilidade, apoiado pela formação acadêmica em engenharia. Descobri um novo mundo ao estudar e trabalhar com temas dos mais variados, de arquitetura à internet passando pela Tecnologia Assistiva e audiodescrição de exposições de arte, peças de teatro, cinema e vídeos.

Ao entrar em contato com crianças e adultos com deficiência, pude entender, sentir, me emocionar e me indignar com a discriminação que sofriam em todos os lugares e a qualquer hora do dia ou da noite.

Nas escolas, presenciei as dores de familiares – mães, avós, pais – ao darem seus depoimentos e chorarem indignados a rejeição de suas crianças e adolescentes pelas pessoas, pelas instituições, pelas cidades e pela sociedade. Também falavam da esperança de uma vida nova, influenciados pelas mudanças que experimentavam, pois são sabedores da diferença entre ser uma pessoa com deficiência há 50 anos e em anos recentes.

A minha tomada de consciência em relação às necessidades das pessoas com deficiência – mesmo sem ter uma – se deu na prática do dia a dia. Pude ampliar meu olhar, antes orientado para as discriminações econômica e social. Percebi que os mais atingidos eram os mais frágeis, os menos representados, os menos sem voz, os menos reconhecidos.

Esgotado esse ciclo na Mais Diferenças, parti para trabalhar dentro das empresas fazendo palestras, construindo projetos e programas de inclusão no trabalho. Faço isso até hoje com muito gosto.

Agora, começo com a minha colaboração com o Vida Mais Livre. Espero que, por meio dela, consiga cumprir meu propósito que é o de apoiar as pessoas e organizações na construção de uma sociedade onde as diferenças sejam aceitas e os indivíduos respeitados.

Ao conviver com pessoas com deficiência, pude perceber a importância de viver o presente. Aquele instante em que as demandas não podem esperar um futuro que demore a chegar ou talvez não chegue.

Compreendo que a manutenção de conquistas recentes das pessoas com deficiência na área do trabalho, principalmente, dependerá das lutas que, daqui para frente, escolhermos lutar. Acredito que se a pressão pelo reconhecimento de direitos não for mantida, o retrocesso é certo.

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