Será que podemos ser iguais em tudo? Igualdade entre quem? Igualdade em quais aspectos?
Quais variáveis devem ser questionadas e valorizadas e será que alguma variável deve ser valorizada? Ruosseau já estabeleceu em seu Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens uma diferenciação fundamental entre desigualdades naturais, entende-se aqui aquelas produzidas pela própria natureza e as desigualdades sociais, oriundas das relações econômicas, espirituais, políticas, etc. Para o estabelecimento de ideais igualitários se faz necessário eliminar a segunda, uma vez que as primeiras são fundamentais, benéficas e moralmente indiferentes.
Quando conseguimos compreender que não é a universalidade de suas características que define um sujeito e sim suas peculiaridades, sejam elas ligadas a atributos físicos ou intelectuais, sexo, etnia, crenças político-religiosas, tratar as pessoas diferentemente pode simplesmente tornar mais evidente suas diferenças, da mesma forma que tratar igualmente os diferentes pode esconder suas especificidades e exclui-los da mesma maneira. Ser humano ou ser gente é sempre correr o risco de ser diferente.
Quando pensamos no sistema educacional brasileiro nos deparamos com uma realidade ainda mais cruel. Ao refletirmos sobre a democratização do ensino e em todas as dificuldades enfrentadas para que o acesso à escola ocorra de maneira igualitária, nos damos conta que o caminho a ser percorrido ainda é longo, porém possível de ser trilhado. Sabemos que o ensino escolar no nosso país ainda é aberto a poucos, e essa exclusão includente fica ainda mais acentuada quando pensamos nas pessoas com deficiência.
As mudanças nas escolas tem que ocorrer para garantir a condição de acesso de todos os alunos, dando-lhes condições para prosseguir em seus estudos, segundo a capacidade de cada um, sem discriminações e segregações. As mudanças não são somente as arquitetônicas, claro que estas são fundamentais, mas não são únicas. A formação de professores capazes de receber todos os alunos e promover em suas salas de aula ambientes onde a aprendizagem ocorra com prazer, a criação de salas de recurso eficientes e que de fato auxiliem os alunos com necessidades especiais a aprenderem são tão importantes quanto as rampas de acesso.
Mas porque será que as pessoas ainda resistem tanto à inclusão? Nesse momento concordo com Mantoan, quando ela diz que resiste-se à inclusão escolar porque ela nos faz lembrar que temos uma dívida a saldar em relação aos alunos que excluímos pelos motivos mais banais e inconscientes, apoiados por organizações escolares que se destinam a alunos ideais, padronizados por uma concepção de normalidade e eficiência arbitrariamente pré-definida.
O caminho ainda é longo, mas olhando para trás percebemos que já avançamos muito, há muito para avançar ainda, mas somos capazes. E tenho certeza que um dia teremos a escola que queremos para todos os brasileiros, uma escola que reconhece e valoriza as diferenças, tornando-as engrandecedoras e agregadoras de valores.