Sobre Ser ‘Invalidado’

Fazer uma faculdade de Humanas me permitiu passar por experiências muito interessantes em relação à minha deficiência. Uma das mais marcantes aconteceu no mês passado, pouco depois da minha primeira coluna aqui no Vida.

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Oi.

Fazer uma faculdade de Humanas me permitiu passar por experiências muito interessantes em relação à minha deficiência. Uma das mais marcantes aconteceu no mês passado, pouco depois da minha primeira coluna aqui no Vida.

Em pesquisas sociais, fala-se muito da questão de se ver pelo olhar do outro, analisar situações que podem, para você, ser naturais, de uma maneira não afetada pelas suas próprias experiências, com o olhar de um estranho. Foi nesse contexto que conversamos com mães de crianças e jovens com deficiências diversas, e foi ali que pude ver o meu mundo por outros olhos.

Ali, conversando com aquelas mães, que prezam tanto pelo bem-estar das crianças, eu vi também minha família, minha mãe, e suas preocupações. Também pensei no modo como a figura da pessoa com deficiência é vista na sociedade.

Muitas vezes, acabamos por ser rotulados como ‘coitados’, ‘vítimas’, ou, quando tentam dar uma luz mais positiva, nos pintam como casos ‘milagrosos’. Sei que isso é um assunto delicado para se tratar, afinal, como já disse e sempre direi, cada caso é um caso, mas essa visão do ‘coitado’ sempre me incomodou.

Me incomoda porque não é uma visão inclusiva, não é uma visão que busca a aceitação natural da pessoa com deficiência – é uma visão que nos separa dos ‘normais’, como figuras diferentes, que necessitam de pena, de piedade. Somos fragilizados aos olhos dos outros e passamos por situações extremamente condescendentes, até infantilizados.

Claro, há pessoas cuja deficiência necessita de um número maior de adaptações, outros de menos, mas já é tempo de desafiarmos o antiquado rótulo de ‘inválidos’, ‘entrevados’ e ‘incapazes’. Somos apenas pessoas normais tentando viver a vida como qualquer outra, algumas adaptações, claro, alguns cuidados maiores, sim, sem dúvida, não ignoramos isso, mas peço àqueles que nos acompanham em nossa rotina que não nos tratem como figuras menores, que respeitem nosso espaço e nossas habilidades.

Pois, acredite, ter amigos e familiares que acreditam nas nossas habilidades, como as mães e terapeutas com quem conversei na clínica, pessoas que nos dão apoio, é essencial para nós, para nossa confiança. Mas parte dessa confiança nasce também de perder a insegurança, de conquistar coisas com nossos próprios corpos e provar para nós mesmos que somos capazes.

Somos pessoas, não bonecas de porcelana, às vezes, o melhor apoio é a confiança.

Tchau.

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