Sobre Superstições e Milagres

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Oi.

Esse ano, completei dois anos de terapia e, no início, não imaginei que chegaria a discutir minha deficiência. Sempre achei que estava bem resolvido. Pelo menos era isso que eu transparecia, era isso que as pessoas achavam.

É uma ocorrência comum: estou andando pela rua, geralmente com fones no ouvido, alguém me para, eu paro a música e ouço. As frases não mudam muito. Frases de encorajamento, vozes que dizem que “logo ficarei bom”, “que Deus vai ajudar, e logo estarei correndo por aí, jogando futebol”.

É complicado lidar com isso – ao menos é algo complicado para mim – pois a autoaceitação é algo que tem de ser construído ao longo de muito tempo e uma frase como essa, por mais bem intencionada que seja, pode levar a uma linha de pensamento muito perigosa: “será que tem algo de errado comigo? será que eu sou realmente imperfeito?”. Um caso particular que aconteceu comigo foi de uma senhora lá de São Bernardo que por duas vezes me parou na rua com um sorriso simpático para me dizer algo que sempre me faz rir: “esse problema que você tem é o Diabo tomando conta de seu corpo. Não deixa não, viu? Vá na Igreja tal que eles vão te curar”.

Primeiramente, eu ri internamente. Não conseguia acreditar que realmente estava ouvindo aquilo, chegou a ser uma cena fofa, aquela senhorinha inocente me dizendo algo assim, tão honestamente. Ouvi, agradeci e segui em frente.

O segundo nível desse processo é a linha de pensamento tenebrosa: será mesmo que eu estou errado? Que eu sou errado? Será que todos esses anos de fisio, T.O, de cirurgias e adaptações foram errados?

Não se engane: não há nada de errado ou demoníaco com nenhum de nós – todas as pessoas, com ou sem deficiência precisam de adaptações no cotidiano. Alguns mais ou menos, mas todos, e não há vergonha em pedir ou mesmo recusar ajuda, igualmente, não há motivo para nos sentirmos culpados pelo jeito que somos, pelo modo que nascemos ou vivemos. Eu demorei pra entender isso, mas antes tarde do que nunca. Ninguém está sozinho.

Tchau.

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