Super-Herói (Não é Fácil) – Parte II

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O Menino sem Medo

Oi, continuando…

Hoje falaremos sobre como os super-heróis nos dão coragem.

Em 2003, passei por uma cirurgia de alongamento de tendão cujo objetivo (atingido!) era corrigir minha marcha. A troca: teria de passar seis semanas engessado. Seis semanas, para uma criança de cinco anos é uma eternidade.

Como se preenche a eternidade? Para mim, a resposta é sempre a mesma: veja quantos filmes puder (aquela ainda era a época das videolocadoras, e o cheiro de pipoca de micro-ondas, ar condicionado, e carpete ainda vive na minha memória). Eu vi MUITOS filmes naquelas seis semanas, mas um deles me marcou para sempre: Demolidor – O Homem Sem Medo.

Para quem não sabe, Demolidor é um herói da Marvel (a dona dos Vingadores), e ele é um advogado cego e os seus sentidos remanescentes foram aguçados pela mesma radioatividade que o cegou (uma versão fantasiosa do processo conhecido como neuroplasticidade, pode jogar no Google, eu espero).

Aquilo mudou meu mundo: até então, todos os heróis e heroínas que eu conhecia eram modelos de perfeição, imagens do Olimpo, inatingíveis. Matt Murdock (o alter ego do Demolidor) era um menino como eu, tinha uma deficiência, como eu, e sofria o mesmo tipo de bullying que eu sofria. Foi identificação instantânea, eu também poderia ser o menino sem medo.

Com Demolidor, eu aprendi que minha deficiência não era limite para minha capacidade, pois Matt era um dos melhores lutadores dentre os heróis da Marvel, um dos melhores advogados de Nova York, e na verdade, sua deficiência o ajudava a perceber o mundo de uma forma única.

O que me afetou não foi a questão de representar pessoas com deficiência como super-heróis, algo que desconstruiremos mais adiante, mas a ideia de que não precisamos ser definidos pelo que nos ‘falta’. Devemos nos orgulhar de cada parte de nossa identidade, pois torna cada pessoa do mundo, independente de quem seja, um herói. Foi assim que eu deixei de ter vergonha do jeito que eu andava, das vezes em que caía. Eu era diferente, mas aprendi a me orgulhar disso, pois isso me trazia novas oportunidades, novas formas de encarar o mundo. Com o tempo, deixei de ter medo.

Ninguém deve ter medo de quem realmente é.

Na conclusão desta série, falaremos mais sobre o que nos torna heróis, porque somos todos heróis e, por fim, porque isso não quer dizer ‘ser perfeito’.

To be continued.

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