Tania Rodrigues: um exemplo de superação e determinação

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Tania Rodrigues, de 64 anos, natural de Niterói, no Rio de Janeiro, é dona de uma história repleta de conquistas e superações. Casada, mãe de dois filhos e avó de Lara, a política, formada em medicina com especialização em neurologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), contraiu o vírus da paralisia infantil aos três anos de idade e, em pouco tempo, perdeu o movimento das pernas.

Receber o diagnóstico não foi fácil: Tania conta que o processo foi doloroso para seus pais, mas lembra de que nunca desistiram da luta para que ela tivesse as melhores condições de vida e o tratamento mais eficiente possível.

Como tinha apenas três anos, a política foi alfabetizada ainda no hospital, entre uma cirurgia e outra. Após receber alta, conta que estava tão bem preparada que pulou duas séries na escola em apenas um ano. Ela diz que sempre foi muito incentivada pelo pai, que costumava dizer que ela só poderia vencer na vida se estudasse e se dedicasse muito.

Tania, que chegou a ser uma das maiores especialistas do país em Hanseníase, hoje não atua mais na área de medicina, dedicando-se completamente à vida política e às questões públicas relacionadas aos direitos das pessoas com deficiência, por meio de suas candidaturas e de sua instituição, a Andef. Segundo ela, seu dia a dia é estar sempre na rua, atenta ao que pode fazer para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Conheça um pouco mais de sua história de vida, conferindo abaixo a entrevista exclusiva ao Vida Mais Livre:

Vida Mais Livre: Como decidiu fundar a Andef?
Tania Rodrigues: Decidi fundar a Andef no Ano Internacional da Pessoa com Deficiência, instituído pela ONU, em 1981. Ser médica formada por uma renomada universidade como a UFF na minha época era uma exceção, no que diz respeito às pessoas com deficiência. Hoje, com a nossa luta e de muitas Ilustraçãooutras pessoas, a realidade é bem diferente. Então, fiquei responsável pela banca de empregos na cidade de Niterói em 1981. Vi que poderia ajudar muitas pessoas e resolvemos fundar uma instituição que lutasse pelos direitos da pessoa com deficiência, e não apenas que prestasse serviço e, depois de resolvido o problema, sumir.

Vida Mais Livre: Quais dificuldades enfrentou com a Andef?
Tania Rodrigues: Os primeiros anos da Andef foram muito difíceis, pois, em muitas vezes, dependíamos da ajuda de outras pessoas. A nossa primeira meta foi fazer a reabilitação das pessoas com deficiência através do esporte. Participamos de vários campeonatos nacionais, além de ajudarmos a formar e investir nas principais entidades ligadas ao desporto das pessoas com deficiência no país, como o Comitê Paralímpico Brasileiro. A partir de 1989, começamos a fazer a terceirização de mão de obra da pessoa com deficiência, em um convênio com a Telerj. Nosso trabalho era tão profissional que, anos depois, passamos a ser o maior distribuidor de fichas telefônicas do estado do Rio de Janeiro. Hoje, temos mais de 800 colaboradores com deficiência com carteira assinada e todos os direitos trabalhistas e previdenciários garantidos.

Vida Mais Livre: Como decidiu entrar para a política?
Tania Rodrigues: Decidi entrar para a política em 1992, quando o movimento das pessoas com deficiência nacionalmente decidiu que deveríamos ocupar nossos espaços no parlamento para que nossos direitos fossem garantidos. Fui eleita vereadora no mesmo ano. Em seguida, dois anos depois, deputada estadual. Em 1998, fui reeleita. Hoje, concorro novamente ao cargo de deputada estadual do Rio de Janeiro.

Vida Mais Livre: Quais as maiores dificuldades enfrentadas enquanto atua na política?
Tania Rodrigues: As maiores dificuldades são sensibilizar os gestores sobre a importância das questões de acessibilidade e cidadania; mostrar que as pessoas com deficiência fazem parte da sociedade e o que é bom para elas é bom para todos; quando assumi o mandato de deputada estadual, tive que pedir para fazer obras de acessibilidade na Assembleia Legislativa para que eu pudesse me deslocar com a cadeira de rodas; enfim, muitas vezes é complicado mostrar e conscientizar a nossa sociedade sobre a importância da acessibilidade e do desenho universal para que todos possam ter o direito de ir e vir respeitados. Mesmo com as dificuldades, fico muito orgulhosa em ter levado a cidade de Niterói à cidade mais acessível do estado do Rio de Janeiro e uma das cinco mais do Brasil, segundo o IBGE.

IlustraçãoVida Mais Livre: Em sua opinião, o que falta para que as Leis relacionadas às pessoas com deficiência funcionem?
Tania Rodrigues: Na maioria dos casos, acho que falta a mudança da cultura de grande parte da população, que só acontecerá com cada vez mais informação e discussão sobre os temas relacionados às pessoas com deficiência. Temos que fazer parte das principais pautas, como educação, saúde, segurança pública, transportes… Em outros casos, acho que as leis só serão respeitadas caso o contribuinte tenha que pagar multa, como acontece nos Estados Unidos. Lá, se você parar na vaga destinada para pessoa com deficiência sem o cartão de estacionamento, a multa é pesada. Mas acredito que estamos tendo diversos avanços e o movimento das pessoas com deficiência no Brasil é, sem dúvidas, um dos que mais cresce e tem obtido conquistas. Basta olhar para trás, quando fundei a Andef em 1981, e perceber a quantidade de vitórias que conseguimos nestes mais de 30 anos.

Vida Mais Livre: O que você espera para seu futuro?
Tania Rodrigues: Eu espero que possamos chegar a um dia no qual as pessoas com deficiência como eu possam exercer plenamente o direito de cidadão como qualquer outra pessoa. Como deputada, quero lutar para que façamos muitas coisas em virtude da realização dos Jogos Paralímpicos na cidade do Rio de Janeiro, que, pela primeira vez, será realizado na nossa casa. Os Jogos devem ser um divisor de águas, tanto na mudança da cultura da nossa população, como também como forma de oportunidade para deixarmos a cidade do Rio de Janeiro, o Estado e o Brasil mais acessíveis para todas as pessoas, sejam elas moradoras, turistas ou atletas.

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