Pauê Aagaard: o primeiro surfista biamputado do mundo

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Conheça Paulo Eduardo Chieffi Aagaard, o Pauê, que sofreu um acidente aos 18 anos e perdeu parte das pernas. Desde então, carrega consigo uma história superação e conquistas mundiais.

Pauê

Por Giovana Villari, da Reportagem do Vida Mais Livre

Paulo Eduardo Chieffi Aagaard, o Pauê, nascido e criado emSantos, no litoral de São Paulo, leva consigo uma bagagem de superação e conquistas ao longo dos anos. Em junho de 2000, ele estava no auge de sua adolescência, caminhando para a academia de ginástica na cidade de São Vicente, no litoral paulista, quando sofreu um atropelamento causado por uma locomotiva de trem que circulava com os faróis apagados à noite, em uma linha férrea desativada. Como consequência, 58 dias de internação, risco de morte e a amputação de parte das pernas.

Surfista desde os onze anos de idade, o atleta, que sempre foi ligado ao mundo esportivo, participava de campeonatos mirins de surfe, praticava diferentes lutas e jogava futebol em vários clubes. Por conta desse interesse, Pauê decidiu seguir carreira na área de saúde, cursando fisioterapia na UNIMONTE, universidade em Santos. Hoje, ele também pratica saltos de paraquedas, mergulho, esqui, rapel e muitos outros esportes que parecem inatingíveis para pessoas com deficiência.

Sofrer o acidente foi um choque enorme para toda família. Por ser uma época de decisões importantes e ingresso na vida adulta, o atleta foi pego de surpresa. Ele conta que, logo de início, ficava se questionando e tentando entender o porquê de aquilo acontecer justamente com ele, mas que rapidamente amadureceu muito e passou a aceitar a situação. “Foi algo ruim, mas que depois se tornou até bom, pois me senti um sobrevivente. Tive mais disposição para voltar a viver e fazer o que gostava, retornar à rotina. Foi um momento em minha vida de grande mudança”, relembra.

Pauê conta que no momento do acidente, manteve a consciência e sabia tudo o que passava à sua volta. Desde o momento do atropelamento até a chegada ao centro cirúrgico, tinha noção do que acontecia e sabia que perderia aspernas. Pauê correndoO atleta conta que muitos o ajudaram na fase de superação, mas que sua mãe e seu técnico de triatlon,José Renato Borges, o “mosquito”, lhe deram muita base, mensagens positivas e motivação.

Seu processo de reabilitação se deu por meio do esporte. Logo após receber alta médica, começou a nadar. Dessa forma, retomou o equilíbrio e o controle do corpo e tonificou a musculatura. Pouco a pouco, voltou a ter contato com o surfe e, após ganhar confiança, força e incentivo, começou a competir na modalidade de triatlon, o que considera seu maior desafio. Como Pauê utiliza próteses nas pernas, algumas modalidades esportivas podem ser mais complicadas. Porém, próteses adequadas permitem dar continuidade à vida de atleta. Hoje, existem aparelhos com dispositivos sofisticados que garantem a reabilitação plena e a possibilidade de desenvolver atividades esportivas, como no caso de Pauê. A lâmina de carbono impulsiona o amputado, funcionando quase como uma mola.

Nessa volta aos esportes, o atleta se sentiu um tanto barreirado. Asdificuldades eram reais, mas sua vontade e persistência eram maiores. Seu desempenho evoluiu rapidamente e ele não pensou em desistir, sempre buscando se superar e sair da situação em que se encontrava. “Tive uma fuga estratégica para o esporte. Meus resultados foram ótimos e expressivos em um curto espaço de tempo, me propiciando até uma bolsa de estudos. Me senti entusiasmado e motivado, sempre buscando resultados ainda melhores”, conta.

Entre suas maiores conquistas, o atleta destaca os primeiros lugares em campeonatos mundiais de surfe e os inúmeros títulos do triatlon: Campeonato Mundial, em 2002, bronze no Pan-Americano, em 2003, Pentacampeonato Brasileiro, de 2002 a 2006, e Tetracampeonato Internacional, em 2002, 2003, 2006 e 2007.

Quando questionado sobre preconceito, Pauê concorda que ele existe, mas que é uma via de mão dupla – sofre quem dá margem. “Se a pessoa se trata como coitada, automaticamente, todos à sua volta a tratarão também. Sou uma pessoa que lida de forma diferente com a diferença”, aponta. O atleta se considera alto astral, feliz e merecedor, e acredita que, dessa forma, atrai apenas pessoas boas para sua vida.

Hoje, seu foco esportivo está na canoagem, por meio de um programa do governo, o Superágua – o atleta remou de Paraty até Santos, distância de cerca de 400 km, em dez dias. Ele também apoia o programa Superbike, onde pedala por um trajeto de seis dias em Florianópolis e depois realiza palestras em universidades, exibindo os vídeos captados durante a expedição na tentativa de conscientizar a população sobre a importância do uso de bicicletas.

Em 2013, Pauê lançou um documentário que registra sua história. O filme foi exibido em salas de cinema pelo Brasil e sua produção foi viabilizada pela Lei Rouanet, do Governo Federal, com o patrocínio da Apsen Farmacêutica e do Banco Safra. “A ideia é fazer com que o telespectador possa refletir sobre os verdadeiros valores humanos, e entender que todos podem ser um vencedor, independente dos problemas ou dificuldades que enfrentam”, diz Pauê. Com aproximadamente 70 minutos de duração, o filme conta com relatos de amigos, familiares e atletas que acompanharam sua trajetória.

Além de esportista, Pauê também é palestrante. “Meu começo nas palestras foi algo natural. Recebi convites de empresas e assim comecei. Hoje, já passei por mais de 700 empresas e realizei por volta de 1.500 palestras. Me sinto realizado”, conta. Em suas palestras, o atleta relata algumas situações que viveu e passa mensagens de otimismo, motivação, adaptação e determinação.

Em 2008, o atleta lançou seu primeiro livro, “Caminhando com as próprias pernas”. “O livro tornou-se uma necessidade, pois me senti um pouco pressionado, já que vários palestrantes e personalidades possuíam seus livros. Mas, de qualquer forma, foi algo que sempre quis fazer”, diz. O livro conta detalhes de sua história sob diversos pontos de vista, voltando e avançando no tempo.

Seu maior sonho, atualmente, é tornar acessível a condição da reabilitação para todos e melhorar o acesso ao esporte para pessoas com e sem deficiência. Pauê pretende continuar praticando esporte, expandir o trabalho de sua ONG (como não foi citada antes, é preciso explicar sobre essa ONG) e continuar ministrando palestras.

“Não tente entender o motivo das coisas acontecerem, não perca tempo, apenas vá atrás. Nunca espere por um milagre, faça acontecer”, deixa como mensagem final.

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