Renata e Luiz Arthur: inspiração que vem do mar

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Renata Glasner e Luiz Arthur Resende encontraram nas aulas de surf uma atividade gostosa de trabalhar o corpo.

Por Giovana Villari, da reportagem do Vida Mais Livre

Todos sabemos que praticaresportes regularmente traz uma série de benefícios para a saúde de quem pratica. Para as pessoas com deficiência, os ganhos são ainda maiores. O esporte trabalha a coordenação motora, promove a sociabilização e melhora a autoconfiança e a autoestima de quem o pratica.

Nesta edição de perfil, nossa equipe conta a história de dois surfistas – a Renata e o Luiz Arthur. Alunos do Instituto Adaptação e Surf – Adaptsurf, uma organização sem fins lucrativos que procura promover a inclusão social de pessoas com deficiência para o acesso ao lazer e ao esporte através do contato com a natureza, eles encontraram no mar um parceiro inspirador para trabalhar seus corpos e mentes.

Renata Glasner de Freitas, 37 anos, nasceu no Rio de Janeiro, onde formou-se em desenho industrial na Universidade Federal daquele estado – a UFRJ. Ela trabalhava como designer em uma produtora de vídeo e tinha uma filha, Mariana, de apenas quatro meses, quando os primeiros sinais da esclerose múltipla começaram a surgir, em 2008.

Para quem desconhece, segundo o Dr. Drauzio Varella, “esclerose múltipla é uma doença inflamatória crônica, provavelmente autoimune. Por motivos genéticos ou ambientais, na esclerose múltipla, o sistema imunológico começa a agredir a bainha de mielina (capa que envolve todos os axônios) que recobre os neurônios e isso compromete a função do sistema nervoso. A característica mais importante da esclerose múltipla é a imprevisibilidade dos surtos. Em geral, a doença acomete pessoas jovens, entre 20 e 30 anos, e provoca dificuldades motoras e sensitivas”.

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A designer lembra que foi perdendo os movimentos aos poucos, principalmente nos membros inferiores, e demorou um ano até ser diagnosticada. Neste meio tempo, foi acostumando-se com a ideia de talvez não voltar a andar e recebeu muita força da família. Em meio às inúmeras sessões de fisioterapia, Renata resolveu procurar uma atividade que trabalhasse o seu corpo, mas de forma diferente. “Eu buscava algo que não tivesse cara de tratamento, mas sim de vida normal”, conta. Foi quando, por meio de uma novela, em 2009, ela descobriu o trabalho da Adaptsurf e procurou saber mais sobre o projeto.

Após a primeira aula, a surfista sentiu algo indescritível. “Foi umaexperiência fantástica. Senti a liberdade e a sensação de poder sentir o gosto de água salgada na boca novamente”, relembra com emoção. Praticante do esporte há mais de três anos, Renata, que não teve dificuldades ao encarar o novo desafio, nunca pensou em desistir. A atleta participou de todos os campeonatos de surf adaptado desde que começou a surfar, destacando-se nas modalidades Atleta Revelação e Melhor Onda.

Os professores são quem mais a inspira. “Luana, Phelipe e Henrique Saraiva me dão força, são exemplos de pessoas e, só de olhá-los no mar, aprendo mais um pouquinho do que é surf”, conta.

Quando questionada sobre o futuro, Renata diz que não tem pretensões de virar uma atleta profissional. “O esporte para mim é relaxamento e curtição, mesmo. Pretendo recuperar meus movimentos, mas não é uma prioridade de vida. Quero ser sempre feliz e ter muita paz”, deixa como mensagem.

luiz_arthur_okA história de Luiz Arthur Falcão de Resende é um pouco diferente. Natural doRio de Janeiro, Luiz nasceu com Síndrome de Down. Mesmo com a deficiência, quando criança teve uma “infância muito legal”, como ele mesmo descreve. Sua mãe, Mônica, conta que o garoto sempre foi levado e inquieto. Na época, a rotina girava em torno da escola – o aluno sempre frequentou escolas especiais por falta de opção, pois as “normais” não o aceitavam –, passeios e viagens com a família, aulas de natação, fonoaudiologia e idas ao psicólogo.

Desde cedo, Luiz demonstrou afinidade com o surfe. “Sempre gostei de pegar onda com pranchas menores. Amo o mar e os surfistas, que são muito legais”, diz. Sua primeira aula na Adaptsurf, mais de seis anos atrás, marcou o jovem, que até hoje se lembra com emoção daquela experiência: alegria, prazer e felicidade. “Me senti realizadoe foi muito importante pra minha autoestima”, conta.

No seu dia a dia, recebe a ajuda de sua mãe e familiares, mas conta que precisa deles somente para algumas coisas. “Já sofri algumas vezes, sim. Algumas pessoas parecem não gostar de mim, mas a maioria eu sei que gosta”, comenta, quando questionado sobrepreconceito. Além de surfar, o que mais gosta de fazer atualmente é trabalhar na pequena fábrica do tio.

Nas horas de lazer, o surfe tem prioridade. Luiz pratica suas aulas todo domingo na praia do Leblon, no Rio de Janeiro. O aluno ainda não conseguiu ficar em pé na prancha, mas não se sente limitado. Sempre que tem chance, participa dos campeonatos da Instituição, já ganhou medalhas e nunca pensou em desistir. “Ainda quero surfar muito, pegar várias ondas, sempre melhorar e continuar sendo feliz”, finaliza.

Confira aqui nosso especial sobre a importância da prática esportiva para pessoas com deficiência.

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