Da Eliminação à Inclusão – III

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Nos recentes 60 anos, o mundo experimentou mudanças como não havia acontecido nos últimos 12 mil anteriores.

O novo olhar das pessoas, a partir de mudanças culturais, influenciadas pelo desejo de liberdade e o desenvolvimento das ciências e tecnologias, contribuíram imensamente pra que as pessoas pudessem se tornar protagonistas da própria existência, independentemente da condição física ou sensorial, do gênero, da etnia, da origem ou da orientação sexual.

A invenção da pílula anticoncepcional, em 1960, é um dos exemplos que corroboram com essa tese. A possibilidade das mulheres controlarem seu próprio ciclo reprodutivo possibilitou que tomassem em suas mãos o direito de escolher quando e quantos filhos quisessem ter sem abrir mão dos desejos e relacionamentos sexuais.

Também como integrantes da sociedade e, ainda, algumas como militantes pelos direitos civis e sustentadas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, pelo conceito de Desenho Universal e pela igualdade de oportunidades na Educação e no Trabalho, as pessoas com deficiência passam a liderar o movimento pela inclusão e adotam o lema “Nada sobre nós, sem nós”.

Da década de 60 do século passado aos dias de hoje, na esteira dos movimentos pelos direitos civis em vários países, líderes dos movimentos das pessoas com deficiência compreenderam que seriam reconhecidas socialmente se fossem protagonistas de suas necessidades, reivindicações e desejos. Conhecedoras da história sabiam que a Eliminação pela morte e a Segregação pelo isolamento somente seriam coisa do passado se construíssem suas identidades a partir do reconhecimento de suas limitações, capacidades e potencialidades.

O aprendizado do autoconhecimento e do reconhecimento que há outras pessoas com características parecidas – e também marginalizadas -, possibilita o exercício da solidariedade e do autorrespeito. Hoje, essa abordagem pode parecer evidente e sem novidades para alguns, mas foi revolucionária há 50 anos.

Pensar e sentir as condições subjetivas não era suficiente. Foi necessário que também agissem como sujeitos de direito e, para isso, tinham em mãos a Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 10 de dezembro de 1948. Os mais variados setores sociais foram às ruas conquistar liberdades e garantir direitos apoiados pela Declaração.

O Desenho Universal, criado na década de 60 nos Estados Unidos, por Ronald L. Mace – arquiteto, designer de produto e educador -, desafiou convenções e forneceu as bases de design para um mundo mais inclusivo. Ele cunhou o termo “design universal” para descrever o conceito de projetar produtos e construir espaços para serem bonitos esteticamente e usáveis na medida do possível por todos, independentemente da sua idade, habilidade, status ou limitação funcional.

A igualdade de oportunidades na Educação e no Trabalho como princípio é uma espécie de síntese do processo inclusivo. A exclusão nessas duas áreas demostram o quanto uma determinada sociedade respeita seus indivíduos. As imensas dificuldades para a existência de escolas e organizações inclusivas tem o preconceito e a discriminação como colunas de sustentação. Há os que acreditam que pessoas com deficiência não aprendem e os que juram que elas não conseguem desempenhar nenhuma tarefa produtiva. Mesmo que, diariamente, sejam desmentidos pelos inúmeros exemplos positivos de incluídos.

Legislação e práticas voltadas para a inclusão na educação e no trabalho mudaram a vida e carreira das pessoas com deficiência, mas acima de tudo mudaram como essas pessoas são vistas e tratadas pela sociedade. De burros a incompetentes, hoje são vistas como criativas e eficientes.

Nos textos anteriores – Da Eliminação à Inclusão – I e Da Eliminação à Inclusão – II – pudemos constatar a crescente humanização das pessoas com deficiência pelas sociedades. Outra característica, no entanto, foi a lentidão com que isso ocorrera. Foram, praticamente, 12 mil anos pra que as pessoas deixassem de ser eliminadas para serem internadas, mesmo que a revelia.

Conceitos inovadores juntamente com as lições aprendidas nos movimentos sociais aliados à determinação de uns poucos líderes criaram as condições para a eclosão das bases para a Inclusão. De certa forma, atuaram como catalisadores, alterando substancialmente a velocidade com que as mudanças passaram a ocorrer. Numa linguagem matemática, o crescimento linear dá lugar ao crescimento exponencial.

Não fossem, no entanto, pessoas com deficiência que se negaram ao papel de coadjuvantes e a solidariedade, alteridade e empatia daquelas sem deficiência, mas com olhar inclusivo, o mundo não estaria civilizado como está.

As mudanças ocorridas nesses 12 mil anos – considerados nos textos -, transformaram a vida de todos pra melhor. A vida das pessoas com deficiência, também mudou, no geral, para melhor. A visão inclusiva, sustentada pelos Direitos Humanos, Desenho Universal e igualdade de oportunidades na Educação e no Trabalho, alterou significativamente as perspectivas e possibilidades de vida e carreira de modo a se caracterizarem como pessoas e não mais como deficientes, defeituosos, imperfeitos ou aleijados.

Uma resposta para “Da Eliminação à Inclusão – III”

  1. Gostei muito das reflexões! Acho que os líderes das empresas estão hoje, em sua absoluta maioria, capturados por pressões de curto prazo e não conseguem pautar assuntos relevantes como políticas e práticas de diversidade e inclusão.

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